Notei uma predominância de mulheres, mas não nas cadeiras de liderança
Você já se perguntou por que existem mais mulheres trabalhando na área de atendimento das agências de publicidade? Não raro, as justificativas apontam para qualidades ligadas à empatia, organização, sensibilidade e escuta para conciliar situações adversas. Será que essa ainda é a resposta mais aceita? Não exatamente.
A publicitária Juliane Batistella Martins, que se formou em 2024 no curso de comunicação social - publicidade e propaganda pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó, de Santa Catarina, foi a campo investigar os fatores que levaram à normalização de mulheres no atendimento das agências ao longo dos anos.
Ela venceu a categoria Monografia do ‘Concurso Universitário de Trabalho de Conclusão de Curso Ricardo Ramos’, promovido pela Associação de Profissionais de Propaganda (APP Brasil) no fim do ano passado, com a pesquisa ‘A feminização do trabalho no setor de atendimento em agências de publicidade de Chapecó-SC’, orientado pelo professor e doutor Marlon Santa Maria Dias.
A associação com atributos considerados tipicamente femininos reforça estigmas de gênero e desigualdades estruturais. O reflexo negativo nas dinâmicas de trabalho é latente. As mulheres acabaram desenvolvendo artimanhas para enfrentar preconceitos, cobranças estéticas e problemas emocionais. Os depoimentos colhidos na pesquisa respaldam a naturalização dos rótulos. “Não que o homem não possa fazer, mas, para a mulher, é algo mais natural”, evidencia uma das entrevistadas.
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Outros testemunhos expõem mais discrepâncias. “É óbvio que você vai encontrar um homem organizado em cem ou um que consegue ter esse meio termo da delicadeza”; “O homem tem esse estereótipo, que os homens resolvem, e aí a gente sente, obviamente, quando a mulher tem essa habilidade, o quanto ela sofre pra ter uma posição parecida”; “É muito mais fácil serem grossos quando a gente está com uma roupa mais desleixada. Quando eu ia superarrumada, parecia que eles conversavam mais”; “Até se a gente olhar no todo, existem muitas mulheres que atendem, né? Não só no atendimento de agência”. Essa última declaração mostra como o trabalho da mulher é, muitas vezes, “confundido com o de secretariado, o ato de atender, cuidar e servir, que também são atrelados culturalmente ao feminino”, avalia Juliane.
“No cenário ideal, profissionais mulheres não deveriam exigir o básico, como equidade, um ambiente saudável e justo de trabalho. Mas, se assim for preciso, que não nos falte coragem e força para falarmos e nos posicionarmos”, incita Juliane, que já trabalhou como profissional de atendimento publicitário em agências de Chapecó por mais de seis anos.
Em sua primeira oportunidade para uma vaga de estágio, ela pediu para passar por todas as áreas da agência. A busca era por identificação. Embora tenha concordado, a pessoa que conduzia o processo logo respondeu que “você tem cara de atendimento”. Essa foi a lembrança que inspirou Juliane a desmascarar as facetas da área.
“Nesses anos de atuação no mercado, notei uma predominância significativa de mulheres, mas não nas cadeiras de liderança do setor”, assinala. A expectativa é inspirar estudos capazes de expandir o debate sobre gênero e trabalho, especialmente no atendimento publicitário, setor pouco explorado na literatura acadêmica e profissional.
Leia a matéria completa na edição do propmark de 17 de fevereiro de 2025