Helena Bertho, diretora de diversidade e inclusão da Nubank, convidou os líderes do mercado para refletirem sobre as decisões voltadas ao "novo"

"Eu não me propus a trazer respostas'. Foi assim que Helena Bertho, diretora de diversidade e inclusão da Nubank, começou a sua palestra na Gramado Summit de 2024, que acontecerá entre os dias 10 e 12 de abril, no Serra Park, em Gramado (RS).

Ao longo de trinta minutos, a executiva usou seu tempo e espaço de palco para propor uma reflexão aos presentes sobre a realidade do Brasil e os dilemas que isso traz para as conversas sobre inovação.  

"Eu não vim aqui para trazer o passo a passo da inovação, as regras de ouro, dicas etc. Particularmente, eu não necessariamente acredito que as receitas se aplicam a todas as pessoas e todos os negócios e, quando a gente fala de inovação, é fundamental entender que existem caminhos que são singulares", explicou a executiva.

Logo no início, Helena fez algumas perguntas para a audiência, como por exemplo: quem tinha viajado de avião nos últimos 12 meses, quem possui um smartphone, cartão de crédito, carro, quem tem uma diarista ou mensalista para limpar sua casa e, por fim, quem havia ido à algum restaurante nos últimos trinta dias. Destas, quase todos presentes no auditório levantaram as mãos. Com base nas respostas, Helena apresentou o dado de que aqueles quem havia respondido "sim" para todas as perguntas fazia parte de 2.34% da população brasileira.

A atividade fez parte de um convite da executiva, que apontou que para se falar de inovação, as pessoas precisavam ter um olhar sobre o espírito do tempo, entender o momento presente.

"Temos que escutar com atenção, mapear necessidades reais, entender qual é o ponto de dor do cliente. Não existe inovação que não se proponha a resolver algo real e concreto. Como que nós falamos disso a partir de um recorte de 2.34% de um país que tem em média 215 milhões de habitantes?", afirmou.

Pensando nisso, Helena apresentou três pensamentos para reflexão dos presentes, começando pelo "senso de realidade". Uma pesquisa realizada pela Oxford e Datafolha apontou que 85% dos respondentes brasileiros acreditam fazer parte da metade mais pobre do país, mas 71% deles tinham uma renda maior que a de cinco salários mínimos. Essa informação é um exemplo do ruído que existe entre percepção e realidade da população, uma vez que, de acordo com a executiva, apenas 5% da população nacional ganha mais de cinco salários mínimos.

Outro dado apresentado ao longo da palestra "Construindo o Futuro: Inovação, Propósito e Impacto", foi que mais da metade da população mundial adulta (cerca de 2,5 bilhões de pessoas) não tem acesso a serviços financeiros formais, ou seja, não possuem cartões, contas bancárias e não estão inclusas no mercado financeiro de forma oficial. "Saber essas informações é ter senso de realidade, é conhecer o mundo, saber onde estamos e o que precisamos fazer", completou Helena.

Além do senso de realidade, a executiva também discutiu sobre o "senso crítico". Segundo ela, para o mercado falar de inovação, ele precisa primeiro questionar o seu lugar no mundo e o seu papel.

"Nós temos que ter senso crítico e questionar as coisas que estão postas, o que estamos vendo e quais são as soluções mas, para isso, temos que estar conectados com a realidade e estar próximo das pessoas", explicou.

Sobre essa temática, ela também relembrou que entre os anos 1990 e 2000, as estratégias das marcas eram baseadas no "call to action", como por exemplo o "seja", "veja", "beba" e que, nos tempos atuais, essa estratégia não cabe mais.

"Nós estamos disputando a atenção e, agora, nós temos que, no máximo, convidar as pessoas para uma conversa e entender se esse público está disposto a ter essa conversa", explicou Helena.

A executiva também ressaltou a importância do fator "gente" na inovação, uma vez que a inovação só acontece ao lado de pessoas e, muitas vezes, pessoas diferentes daquela que lidera o projeto. Para Helena, a tecnologia é o meio e a inovação é a cultura.  

Por fim, a executiva falou sobre a necessidade do mercado ter "senso de responsabilidade coletiva" e questionar o motivo de querer inovar em algo. "Se nossos avanços tecnológicos não estiverem servindo para ter um mundo mais igualitário, justo e acessível para todas as pessoas, esse avanço não está servindo para muita coisa e, sinto em dizer, não é sustentável no médio e longo prazo", finalizou.