Não é à toa que a profissão de jornalista é considerada uma das mais estressantes. Imagine um jornal diário em busca de um grande fato para estampar na manchete da sua primeira página. Estar todos os dias atrás do próximo grande fato não é tarefa para fracos.

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Na semana passada li um mea culpa da imprensa americana de ter criado um “monstro” chamado Donald Trump, simplesmente por ter se lambuzado no fato fácil advindo das falas e atitudes do falastrão candidato republicano. Trump é um próximo fato potencial, todos os dias. E a imprensa agradece.

Mas agora se ressente de ter dado popularidade a um homem que pode conseguir o que era impensável meses atrás: ser o presidente do maior país do mundo.

Aqui no Brasil, vemos nossa principal revista de interesse geral apresentar um expressivo crescimento de vendas em bancas e em número de leitores em geral por conta de capas sensacionalistas em torno do imbróglio Dilma-impeachment-Lula, principalmente este último, que foi um prato cheio, após ser flagrado em diálogos indigestos, extraídos de grampos autorizados.

A “novela” Dilma-impeachment-Lula-Moro ainda promete bons capítulos, que gerarão os fatos marcantes que a imprensa tanto ambiciona. Mas não é só a imprensa que depende de um grande fato. Muitos artigos e estudos se dedicam a antever o próximo grande fato, também nos negócios. The Next Big Thing, dizem os americanos.

Quantos jovens estão neste momento enfiados em garagens ou em espaço de co-working procurando ser the next big thing… O campo da tecnologia é o ambiente mais fértil para a geração de um novo grande fato.

Google, Facebook, Twitter, Waze, Uber, Airbnb… todas essas empresas, que valem bilhões de dólares cada uma, foram, em algum momento, o grande fato, capaz de enriquecer jovens nerds, que se entupiram de pizzas e perderam horas e horas de sono para, finalmente, gerarem uma new big thing.

Há quem diga que o futuro próximo não terá tantos conceitos bombásticos. Segundo especialistas, a tendência está mais para uma evolução contínua e de alterações conceituais de modelos existentes do que para o nascimento de algo radicalmente novo.

Há empresas que conseguem gerar esse frisson de “big thing” a cada novo lançamento. Caso da Apple, por exemplo.

A cada convocação da imprensa pela empresa, uma expectativa de que algo revolucionário está para acontecer. Mas a capacidade de se gerar algo realmente novo e impactante é cada vez mais menor, em função da intensa exploração de novos conceitos nos últimos anos.

Players tradicionais, como os da indústria automobilística, por exemplo, se juntam aos nerds para tentar surfar na onda do novo. Basta ver os intensos estudos do carro autônomo, por exemplo.

São poucos, muito poucos, os que conseguem tirar do computador uma grande ideia. Mas, não importa, o sonho de se ter a grande sacada não termina e milhares de start-ups continuarão a surgir cheias de esperança.

Assim como milhares de jovens brasileiros sonham em ser o próximo jogador de futebol famoso e milionário.

E como milhares de publicitários sonham ter a sua próxima campanha trazendo um Leão de Cannes. Mas o que muitos de nós agora estão sonhando é com um grande fato novo que traga o Brasil de volta para um trilho minimamente previsível e confiável.

A grande maioria dos brasileiros anseia por um fato que mude esse baixo-astral que nos assola.

Que faça as empresas terem mais confiança e investirem em suas novas “grandes coisas”. Que faça nosso país sair das páginas policiais e ir novamente para as editorias de negócios. Que traga de volta a esperança.

Eu tenho um sonho de que esse novo grande fato está por acontecer.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)