Não sei você, mas eu estou cada vez mais crítico em relação às embalagens de produtos. Fico muito incomodado com embalagens que abusam do uso de plástico, por exemplo. Um filme plástico, que envolve uma caixa, que, por sua vez, abriga produtos embalados em sacos plásticos individuais. Haja plástico!

Impossível ficar indiferente, quando presenciamos o enorme impacto do plástico acumulado nos rios e oceanos, provocando uma reação em cadeia, que atinge a fauna marinha e chega até nós, que consumimos peixes e frutos do mar contaminados por micropartículas de plástico absorvidas por esses animais.

Há um case ganhador de Grand Prix no Cannes Lions em 2018, chamado A Ilha de Lixo (The Trash Island). É literalmente uma ilha de lixo no Oceano Pacífico formada por 1,6 milhão de m2 de detritos e 79 mil toneladas de plástico. O tamanho é equivalente à área da França.

Aproveitando o fato, a ONG canadense Plastic Oceans Foundation lançou uma campanha com tom de sátira para reconhecer a Ilha de Lixo como o 196º país do mundo. Uma identidade visual foi criada, incluindo bandeira, selos, passaportes e até uma moeda,  intitulada  “detrito”. Impressionante!

Já no Cannes Lions do ano passado, um outro case foi ganhador de dois Grand Prix. Desta vez, é uma empresa do Grupo P&G, fabricante de comida para gatos. A marca é Sheba. Por coerência e materialidade relacionadas ao produto que produzem, que tem o peixe como matéria-prima, a empresa se propôs a recuperar recifes de corais, que estão se deteriorando rapidamente, em função da acidificação dos oceanos.

A estrutura para a formação de novos recifes formam a palavra Hope (Esperança), visível a grandes distâncias. Os recifes têm um papel importante no ecossistema do qual fazem parte os peixes. Daí a coerência da empresa.

O projeto de produção de recifes de corais com o auxílio da empresa foi bem-sucedido e está sendo ampliado. Pois bem, eu não tenho gato, mas, se tivesse, daria preferência a uma marca com atitude como essa. Não só eu. De acordo com o Buying Green Report 2023, divulgado em conjunto com o Earth Day (Dia da Terra), os consumidores estão cada vez mais dispostos a pagar mais por produtos com atitude consciente, principalmente em relação a embalagens sustentáveis, apesar de os preços terem aumentado substancialmente devido à inflação global.

No geral, 82% dos entrevistados estariam dispostos a pagar mais por embalagens sustentáveis, 4% acima de 2022 e 8% acima de 2021, sinalizando que, mesmo com a piora da situação econômica, o meio ambiente continua sendo prioridade do consumidor.

Os consumidores mais jovens (18 a 24 anos) estão ainda mais dispostos, liderando em 90%. O Buying Green Report 2023 é baseado em uma pesquisa com mais de 9.000 consumidores na Europa, América do Norte e América do Sul, explorando os valores e comportamentos dos participantes relacionados a embalagens sustentáveis em um mundo em mudança.

E o resultado da pesquisa deixa claro: os consumidores já consideram o impacto de suas compras no meio ambiente, e a maioria já incorporou práticas sustentáveis em seu dia a dia; 2/3 dos consumidores se consideram ambientalmente conscientes.

63% dos consumidores agora estão menos propensos a comprar produtos com embalagens prejudiciais ao meio ambiente. São 6% acima do ano passado. E 80% estão interessados em comprar produtos com embalagens reutilizáveis para reduzir seu impacto ambiental, enquanto mais da metade se dedica a reduzir o desperdício de alimentos e embalagens.

Sabemos que essa consciência declarada nem sempre resulta em decisão de compra. No Brasil, o preço ainda fala alto. Mas é bom os gestores de marcas e negócios ficarem alertas. A tendência mostrada no resultado da pesquisa é clara.

Há cada vez mais consumidores mais atentos, que podem começar a preterir produtos de empresas desconectadas da nova realidade mundial. Uma realidade pautada nas questões ambientais, sociais e éticas.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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