A comunidade LGBTQIAPN+ representa uma força econômica significativa e não reconhecida em toda a sua potência. A pink economy, como é chamada a movimentação do dinheiro e do lucro gerados por essas pessoas, já tem um potencial de consumo muito significativo, movimentando, em média, R$10,9 bilhões por ano, segundo dados de uma pesquisa da Nielsen. Porém, para que essa potência econômica seja plenamente realizada, é essencial compreender e enfrentar as barreiras que esses indivíduos encontram ao longo da vida, desde a fase escolar até a entrada no mercado de trabalho, e, principalmente, é fundamental entendermos o papel do empreendedorismo para esses indivíduos e para a economia do país.

Para que o poder econômico de uma comunidade possa ser decisivo, é preciso que haja uma organização voltada a esse objetivo. Vamos pensar em duas  comunidades, a negra e a LGBT, tão potentes economicamente: porque nós não nos reunimos para nos organizarmos em torno do nosso poder econômico?

Muitos fatores explicam a falta dessa organização e percebemos que as dificuldades começam desde muito cedo na vida das pessoas LGBTQIAPN+. A pesquisa ‘Um Olhar para o empreendedorismo de Mulheres LGBTQIAP+’, realizada pela Nhaí, em parceria com a AlmapBBDO, em 2022, mostra que 73% dos jovens dessa comunidade já sofreram agressão verbal na escola. O preconceito e a falta de preparo do sistema educacional para lidar com as diferenças são determinantes para aumentar a evasão escolar desse grupo.

Com um histórico de discriminação na escola, que leva a uma formação escolar deficitária, as oportunidades no mercado de trabalho formal acabam sendo menores. O empreendedorismo surge, então, como uma necessidade de sobrevivência. A mesma pesquisa indica que 54% dos participantes relataram que o desemprego, a perda de emprego ou a dificuldade de conseguir emprego foram fatores decisivos para iniciar um negócio. O preconceito em relação à identidade de gênero e orientação sexual também são apontados por 19% das pessoas como uma razão significativa para empreender, já que aumentam a dificuldade de conseguir empregos formais.

Esse movimento destaca a resiliência e a capacidade de inovação dessa comunidade, que contribui de maneira substancial para a economia quando incluída de forma justa e equitativa. Apesar de 82% dos entrevistados descrever que nunca receberam nenhum tipo de apoio para desenvolver suas empresas, 32% dizem se identificar e ter paixão pelos seus negócios. É uma atividade que, devido à informalidade, com 50% dos empreendedores sem possuir CNPJ, não é usada como força motriz da economia do país.

Assim, mapeamos um ciclo de dificuldade para essas pessoas, com consequências claras para a economia.  É crucial ouvirmos, estudarmos e termos dados disponíveis sobre a comunidade LGBT, para que políticas públicas e privadas sejam efetivas. É preciso implementar soluções que promovam ambientes educacionais seguros e inclusivos. Precisamos pensar, como sociedade, em programas de mentoria, capacitação profissional e políticas públicas de diversidade e inclusão que possam transformar a realidade desses indivíduos. Investir na educação e na empregabilidade da comunidade LGBTQIAPN+ não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para fomentar a inovação e o crescimento econômico.

Raquel Virgínia é CEO da Nhaí!