A IA não “cria” nada – ela simplesmente agrupa um monte de dados e conceitos criados
Desde que a IA passou a ocupar grande espaço nas nossas vidas, como contraponto, passou-se também a ser questionado o seu impacto sobre os humanos. Inovações são sempre impactantes, já que mudam formas e processos, mas com a IA é diferente.
Sua onipresença, ao mesmo tempo que fascina, amedronta. O que será dos humanos? No meio da movimentação bilionária (até trilionária) dos principais players, apostando corrida para serem os pioneiros na formatação de soluções revolucionárias, baseadas em IA, estamos nós, humanos, com nossas dúvidas e receios, frente ao tsunami tecnológico que invade nossa vida pessoal e profissional.
Corremos para nos atualizar, começamos a usar as ferramentas lançadas e vamos tentando entender minimamente o nosso papel daqui para frente.
E à medida que a poeira vai baixando, vamos conseguindo enxergar um pouco mais além, até a próxima movimentação, que pode empoeirar nossa visão outra vez.
Mas alguns aspectos começam a aflorar e dar algum alento. O primeiro deles é a constatação de que, sim, a IA é revolucionária, faz um monte de coisa sozinha e em tempo real, mas há sempre humanos por trás.
Seu resultado será tanto melhor quanto for o prompt, a curadoria, a avaliação do que é gerado pelas máquinas e a adequação estratégica dos seus resultados.
Essa curadoria estratégica humana sempre existirá, por mais que se automatizem os processos.
A segunda reflexão é: se as máquinas estão realizando algumas funções humanas com eficiência e rapidez, quais serão outras funções que ganharão importância no campo de atuação típico dos humanos?
Sem dúvida nenhuma, os soft skills, aqueles de ordem mais emocionais, ganharão mais espaço.
Criatividade continuará entre as habilidades mais relevantes: a IA não “cria” nada – ela simplesmente agrupa um monte de dados e conceitos criados anteriormente para gerar combinações interessantes.
A geração de algo realmente disruptivo virá sempre da criatividade humana. E outra habilidade emergente – permita-me uma visão pessoal – é o ativismo.
Num mundo ameaçado por crises climáticas e desafios socioambientais, os humanos estão convocados a agir. Ativismo não se dá simplesmente via protestos e manifestações.
O verdadeiro ativismo se manifesta por ações concretas. O mundo precisa de um aumento significativo de ativistas, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.
O estudo anual internacional ‘Trust barometer’, do Edelman Group, que mede o nível de confiança das pessoas nas instituições, aponta que confiamos apenas nas empresas, e somente nelas.
Nem ONGs, nem governos, nem a mídia alcançam índices de confiança acima da linha de corte – apenas as empresas.
Mas tal confiança vem com uma cobrança: espera-se das empresas um ativismo concreto. Espera-se que as empresas cuidem da sua lucratividade, mas também das pessoas e do planeta.
Que os insumos utilizados na produção dos seus produtos sejam amigáveis ao meio ambiente. Que as pessoas que trabalham nessas empresas sejam remuneradas com dignidade e atuem em um ambiente respeitoso e inclusivo.
Que sua administração seja ética e transparente. E aí vem o neologismo do qual tanto trato nos meus artigos: criativismo. O termo vem da junção de criatividade com ativismo.
Está difícil reverter a deterioração socioambiental da humanidade? Tentemos o criativismo!
Basta analisarmos o resultado das principais premiações dos festivais de criatividade pelo mundo. A maioria dos cases vencedores tem essa pegada criativista.
Pode reparar! Então, que em 2026 e além assumamos nosso lado criativista. Será bom para cada um de nós, para nossas empresas e para a humanidade, como um todo.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br