Desde criança, sempre fui encantada pela televisão. Acho que a maioria das crianças dos anos 1990 compartilha desse fascínio, mas para mim aquilo era mais do que passatempo: era quase um chamado. Lembro perfeitamente do dia em que tudo mudou. Fui com a escola assistir ao programa ‘Eliana no Parque’.

Entrei em um estúdio pela primeira vez e fiquei hipnotizada. A apresentadora surgia iluminada, as provas entravam e saíam do palco em sincronia, como se tudo fosse uma dança perfeitamente ensaiada.

Quando a gravação terminou, senti um vazio enorme. Era como se algo tivesse sido arrancado de mim. Fiquei parada diante do palco vazio e chorei. Não sabia explicar, mas sentia que aquele universo me pertencia. Foi assim que me tornei fã da Eliana, sem entender que o verdadeiro objeto da minha paixão não era apenas ela, mas tudo o que estava por trás: a magia da produção.

Com 12 anos, tomei uma decisão precoce e definitiva: queria trabalhar com aquilo. Pesquisei e descobri que precisava estudar rádio e televisão. Quando finalmente entrei na faculdade, vivi uma cena que nunca esqueci. No dia da minha primeira aula dentro de um estúdio, liguei para minha mãe ainda no pátio, enquanto chorava de emoção. Disse a ela: “Mãe, vou ter minha primeira aula em um estúdio de verdade”.

Era como se a vida tivesse fechado um ciclo. Foram quatro anos de descobertas e de uma paixão que só cresceu. Fiz estágios em grandes emissoras, conheci os bastidores, vivi os imprevistos e, principalmente, percebi que não existe um único dia em que eu não me emocione quando vejo a magia da produção se materializar diante de mim.

Explicar o que faço nunca é simples. Produção é um sistema complexo, como um relógio. O público enxerga apenas os ponteiros, mas por trás existem dezenas de engrenagens invisíveis trabalhando em harmonia. Somos as peças que mantêm o tempo em movimento.

E a verdade é que a produção está em tudo. No cinema, na TV, no teatro, nas exposições, nos shows, nos festivais, na publicidade, nos hotéis, nos restaurantes, nas redes sociais. Está nos casamentos, nas celebrações religiosas e, sim, até em velórios. Parece improvável, mas basta pensar: escolher o caixão, preparar o espaço, organizar flores, carro, música, café. Tudo precisa sair no tempo certo. Produção é sobre detalhes, sobre dar ordem ao caos para que a experiência seja vivida exatamente como deveria.

O que muita gente não percebe é que a produção não é um acessório, algo periférico ao espetáculo. Ela é o próprio espetáculo invisível. É o fio que costura todas as partes e permite que a narrativa se complete. É a engrenagem que transforma ideias em realidade, papel em emoção, conceito em experiência. Se eu pudesse arriscar, diria que até o mundo teve seu produtor. Alguém que desenhou onde cada coisa deveria estar, qual seria a ordem dos acontecimentos, como os detalhes se conectariam.

Nada acontece sem produção. E nada seguirá acontecendo sem ela. Se eu pudesse arriscar, diria que até o universo funciona como uma grande produção. Há uma ordem invisível que organiza cada detalhe, conecta acontecimentos e dá sentido ao todo. Nada acontece sem produção. E nada seguirá acontecendo sem ela. Por isso, deixo aqui o meu abraço a todos os produtores: aqueles que realizam sonhos, que muitas vezes não sabem explicar em palavras o que fazem mas que se orgulham da profissão.

E deixo também meu carinho à Eliana, que foi a faísca inicial dessa paixão. Ela me mostrou, ainda sem saber, que a produção é mais do que uma profissão: é um chamado, uma missão. Foi ali, entre lágrimas diante de um palco vazio, que descobri o que eu seria para sempre.

Thays Miranda
Especial para o propmark