Em minhas palestras, aulas e cursos eu costumo apresentar a imagem como ela é, de fato, pela ótica da Física: uma criação da luz. E a luz é composta por fótons que incidem sob um objeto, onde parte é absorvida e outra parte é refletida para os nossos olhos. Ao entrar em nossos olhos, esses impulsos chegam até o cérebro e formam as imagens como as vemos. Ou seja, a imagem é energia pura e, pela natureza da energia, ela não pode ser construída e muito menos destruída: ela é transformada! E foi exatamente isso que aconteceu com a imagem pública do Big Brother Brasil. Ela se transformou ao longo dos anos e, em sua 22ª edição, parte para uma fase mais sólida e mais madura.

Quem nunca ouviu a frase “eu não assisto BBB” que atire a primeira pedra. Antes, dada a natureza popularesca percebida pelos mais cultos ou pseudo cultos, era vergonhoso assumir publicamente que era telespectador da atração. E quem participava do confinamento carregava a pecha de ex-BBB quase que como uma mácula na imagem. Até que o pós programa começasse a render alguns trabalhos interessantes e a projetar carreiras bem-sucedidas como as de Grazzi Massafera, Sabrina Sato, Gil do Vigor, Juliette e tantos outros.

Desde a primeira atração, em 2002, muita coisa mudou. A começar pela apresentadora da primeira edição, Marisa Orth, que foi eliminada antes mesmo da reta final do programa. Ela que começou junto com Pedro Bial não participou mais. A primeira edição teve polícia e teve até cachorra que deixou a atração. Chamada de Mole, se apegou ao participanteCaetano (o primeiro eliminado). Com a saída dele, a pet ficou desorientada. A imprensa, claro, pressionou e Mole também deixou a atração. E o que conhecemos como Paredão se chamava Berlinda. Mas o artista plástico Adriano começou, insistentemente, a chamar a Berlinda de Paredão e o termo pegou. Há um fato curioso nessa expressão: “estar na berlinda” tem uma versão que vem do italiano e se refere a um poste de madeira que, em praça pública, servia para expor a cabeça dos condenados ou para açoitar ou executar criminosos, enquanto eram expostos ao escárnio público. Ou seja, o termo adotado pela emissora não deixou de ser profético dado o escárnio publico, as ondas de cancelamentos, que os participantes vivem por lá.

Ao longo dos anos a atração foi comandada pelo seríssimo jornalista Pedro Bial que ficou até 2016. Era a seriedade dele misturada com os escândalos que aconteciam na atração. E a credibilidade dele acabava salvando o que era considerado um circo de horrores. Com a sua saída quem assumiu foi o descolado Thiago Leifert que ficou até a edição passada, dando lugar à Tadeu Schmidt.

O BBB se tornou a principal ferramenta de projeção televisiva para anônimos e, desde que introduziu o “Camarote" com pessoas famosas no elenco, ficou na dúbia função de ser uma dinamite para a carreira de alguns e ser um foguete para a carreira de outros. É palco para projeção de imagem, para cancelamento e também para descancelamento, como é o caso da edição atual com Arthur Aguiar que entrou com a imagem arranhada e está conseguindo reverter a percepção dos brasileiros sobre ele. Desde o início, o BBB é também uma vitrine importantíssima para patrocinadores. Há até disputas e filas por espaços comerciais.

Mas, o que explica essa mudança de imagem do programa? A meu ver, primeiro vem a constância da programação da emissora. Ela, raramente, coloca programas no ar para não dar sequência. E ela tem o histórico de servir de relógio para a nação com a sua programação. Isso passa confiança e credibilidade de que seus projetos são sérios e duradouros. Segundo, o pós-programa para muitos anônimos: de lá saíram atores, apresentadores, políticos e influenciadores. Essa catapulta de carreiras virou sonho de mudança de vida para muitos. E aspirar, ambicionar, é o que move o mundo. E, terceiro, porque a emissora sabe mostrar os limites entre o que faz parte da atração e o que faz parte da conduta da empresa.

A energia foi transformada porque alimenta o sonho das pessoas. Foi transformada porque virou pauta na sociedade, reuniu milhões e, claro, onde têm multidões tem espaço e oportunidade para anunciantes. A reputação do BBB foi transformada porque a emissora soube separar o que é opinião dos participantes do que é opinião da emissora; o que é estética da TV e o que são as estéticas individuais; Que comportamentos inaceitáveis socialmente são punidos não apenas pelos telespectadores mas também pela emissora que assim, como milhões de brasileiros, também está na vigília.

O BBB lança luz sobre pessoas e também sobre temas que fazem parte da vida das pessoas. É o palco da vida real e, ao utilizar os holofotes e seus fótons, movimenta uma alta carga de energia para mudanças de vidas individuais e coletivas.

Luciéllio Guimarães é master expert da pós-graduação Gestão e Administração de Talentos da HSMU, e fundador da Imagem Academy e estrategista de Imagem Social