Durante anos, comprei jornais e revistas nas bancas (nunca fui adepto de assinaturas). Acreditava que, assim, ajudava a dois negócios: o da edição e o da venda avulsa. Morando em Buenos Aires, descobri que lá esse negócio era levado muito a sério: as assinaturas não eram contratadas nas editoras, mas com os revendedores que detinham o direito de atender o seu quarteirão.

Com o tempo, fui restringindo minhas compras às edições dos fins de semana. Domingo era o dia de levar para casa leitura suficiente para ocupar o dia e ainda render para a semana.

Com relação à TV, o hábito que se estendeu por muito tempo foi o de zapear as notícias entre 19 e 21 horas. Sempre tive interesse em observar como cada emissora tratava as mesmas notícias. Posso dizer que adquiri bastante clareza sobre tendências e conveniências nas abordagens.

Com a venda da minha casa em São Paulo e a opção por uma vida mais errante, preferencialmente fora dos grandes centros, deixei de ter acesso a uma mídia impressa mais qualificada; infelizmente a distribuição das boas revistas ainda passa, compreensivelmente, longe da maior parte desse imenso país.

Assim, adotei as versões digitais daquilo que mais me interessa (a Piauí, por exemplo, mas não só). Hospedado na casa de amigos, experimentei mais uma característica do consumo contemporâneo de mídia.

Sozinho, liguei a TV às 19 horas para meu tradicional giro pelos noticiários do “horário nobre”, e percebi que só havia streaming. Sequer sabia que, assinante da Vivo, tinha direito a alguns canais da GloboPlay, a que poderia recorrer no celular.
Mas não consigo me imaginar assistindo ao ‘Jornal Nacional’ na telinha, de cabeça baixa, o pescoço curvado. Sim, sou o cidadão que se acostumou a receber as notícias (mesmo as piores desgraças) “no conforto do sofá da sua sala”.

Nessa experiência recente, descobri que poderia acessar o YouTube e, através dele, a CNN Brasil e a BandNews (que um pouco mais tarde reproduz o ‘Jornal da Band’), que são oferecidas gratuitamente.

Assim, não fiquei sem o dinamismo de algum informativo da TV aberta, ainda que restrito aos critérios da Band. Tempos depois, as coisas se apresentam um pouco, digamos, piores.

Na chácara do interior de São Paulo, onde, esporadicamente, passo alguns dias do ano, eu tinha por hábito assistir a, pelo menos, dois ou três jornais pela TV aberta disponível.

Mas dessa vez, cheguei num momento de mudança na propriedade, e o amplo sofá onde me acomodava pontualmente às 19h20 para começar a minha jornada informativa, devidamente servido do meu Chivas, está tomado de tralhas. Ou seja, não tenho mais onde sentar.

Estou, por isso, há mais de uma semana sem saber o que os locutores dos telejornais andam falando.

O mais interessante, no entanto, é que (e aí peço que me perdoem um sentimento até então impensável) não tenho sentido nenhuma falta.

Prático, tenho resolvido tudo, logo cedo, pelo celular antes de levantar da cama (assim, evito abaixar a cabeça e torcer o pescoço). O pior é que eu sei de tudo.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com