A publicidade invisível é um dos fenômenos do nosso tempo. É um segmento da nossa indústria que passou a ser aceito de uns anos pra cá. Chegou e logo se estabeleceu como a saída para todos os males da comunicação comercial e obteve a adesão imediata tanto de clientes como de algumas agências.

A publicidade invisível se assemelha muito à publicidade normal no que diz respeito a seus processos e investimentos. Envolve grandes equipes e requer orçamentos e estrutura. Ela gera bônus aos executivos que também aderem ao seu uso. Afinal, a publicidade invisível pode ser mensurada em detalhes e seus resultados orgulhosamente apresentados. E por isso é um segmento que se expandiu. A publicidade invisível é praticamente igual à publicidade normal, mas com uma enorme diferença, ninguém a vê.

Essa modalidade de comunicação acontece por vários motivos: quando as mensagens passam desapercebidas por falta de uma ideia original que chame a atenção; ou por não ter uma verdade e relevância atrelada à mensagem; ou por produção ou até mesmo pela veiculação em algumas bolhas de audiência que dão uma falsa impressão que todo mundo viu. Só que não. É aquela campanha que foi sem nunca ter sido.

Seja como for, é preciso ficarmos atentos à publicidade invisível. Hoje é notório que muitas marcas incríveis e reconhecidas uns anos atrás estão investindo tanto nesse tipo de comunicação que os seus objetivos estão sendo alcançados com sucesso. Não estão sendo mais lembradas na vida real. Na vida das pessoas. Sim, a vida das pessoas importa.

Essas marcas falam o tempo todo, se comunicam sobre qualquer assunto, opinam sobre tudo. Mas, apesar de todo seu esforço e dedicação, praticamente não são vistas, ou melhor, não são percebidas. Veja, a publicidade invisível vai bem nos relatórios de audiência e pode provar ser efetiva em números. Mas nem tudo são números. Comunicação é antes de tudo percepção. E há que se ter muita coragem hoje para não se colocar a mensuração de qualquer coisa acima de uma percepção humana e um bom senso sobre marca e resultados de venda. Se não concorda, experimente fazer uma planilha de quanto você ama alguém e apresente. Depois me conta o que aconteceu.

O brasileiro adora criatividade, ainda mais em publicidade, e tem o costume de escutar e prestar atenção quando alguém tem um bom argumento que lhe toca, uma história que ele percebe ser relevante e interessante. E percepção não é tão direta quanto um clique. Mas por outro lado robôs também não sonham ou sorriem, não é mesmo?

É importante, para quem faz a indústria da comunicação, identificar a existência da publicidade invisível e tentar diminuir a sua influência e frequência. Essa invisibilidade de marca pode acabar prejudicando empresas com eventuais problemas de imagem. Quando mais precisam de um colchão de reputação para amortecer uma queda, não encontram nada. A bolha estoura e ninguém ouviu falar.

Além de perda de valor de companhias inteiras. Afinal, só uma boa marca, viva, vibrante e visível é capaz de se manter por anos de estrada. A publicidade visível requer um trabalho tremendo por todos os envolvidos, já que para criar, aprovar, produzir e veicular ideias originais são precisos argumentos e dedicação de horas de trabalho a mais que tiram o sossego de todos. Mas que, no final, dão um efeito único.

Flavio Waiteman é CC0-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br