Com temas fortes rondando o festival, protestos do Greenpeace na frente do Palais des Festivals contra a propaganda de combustíveis fosséis e criativos ucranianos demonstrando como canalizaram a criatividade para sobreviver à guerra, o Cannes Lions voltou à Riviera Francesa com todo charme e a força que o tornaram uma potência, apontando como a indústria criativa se move em torno das questões mais urgentes que impactam a sociedade.

Entre os Grand Prix do festival, o case Eat a Swede (Coma um sueco), que recebeu o prêmio máximo na categoria Entertainment Lions, foi um dos que mais chamaram a atenção dos participantes. Criado pela McCann Stocolmo para a Federação Sueca de Alimentos, o filme de 18,5 minutos com cara de documentário propõe como solução para a falta de alimentos no futuro que as pessoas comam carne humana. E o que mais surpreendeu foi o tom bem-humorado do vídeo para tratar um problema tão sério.

Já a Decathlon ajudou presidiários a praticar ciclismo virtual, fazendo-os mais ativos e participativos, por meio de um game de e-cicling. Desenvolvida pela BBDO da Bélgica, a campanha ganhou Grand Prix em Creative Strategy. A presidente do júri da categoria, Chrissie Hanson, chief strategy officer da OMD, reforçou que deixar os detentos mais felizes e ativos também é uma forma de inclusão social. O case recebeu ainda o GP em PR Lions.

O Brasil conquistou 70 Leões no festival, um resultado superior à edição passada, quando as agências receberam 68 troféus. A expectativa era que o volume fosse maior, uma vez que as inscrições brasileiras neste ano cresceram 31% em relação a 2020/2021.

A surpresa para os jornalistas que cobrem Cannes é que o mercado brasileiro ficou sem GPs nesta edição, reflexo de uma rigidez maior na distribuição de Leões como um todo. Em anos anteriores, por exemplo, era comum os jurados concederem até dois Grand Prix em várias categorias - em 2022, apenas Film teve dois GPs.O top 5 das agências brasileiras mais premiadas ficou com Africa (15 Leões); VMLY&R (11); David (8), sendo dois de Ouro, que a colocam na frente da GUT SP, que teve 11 troféus, pelo peso maior do Leão. A Tátil Design completa o ranking, com dois Leões de Ouro.

Apesar de um pouco mais vazio, Cannes foi palco de palestras lotadas, como a da jovem ativista Malala, que foi homenageada com o prêmio especial LionHeart e se apresentou num dos painéis do festival, enaltecendo o papel de ativistas da geração Z, como a sueca Greta Thunberg e a ugandense Vanessa Nakate.

Além do agito da premiação, vários eventos de marcas, empresas de tecnologias e grupos de comunicação foram realizados paralelamente ao redor do Palais des Festival, demonstrando que o Cannes Lions continua sendo fundamental para os participantes fazerem networking e negócios. Presencialmente. À plus tard!

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Nesta edição, além da cobertura do Festival de Cannes, principal assunto da semana, o leitor vai encontrar matéria sobre artistas e apresentadores da TV que estão protagonizando migração em massa das emissoras de sinal aberto – com destaque para a Globo – para plataformas de streaming, como Amazon e Netflix. A lista não para de crescer e conta com nomes como Galvão Bueno, Tiago Leifert, Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães, entre outros.

Outra matéria que pode chamar a atenção do leitor é a da RBS, que adota estratégia para o ingresso de holding de investidores na companhia. A empresa de comunicação gaúcha também prepara a reorganização societária, prevista para ser implementada nos próximos anos. É bom ressaltar que a operação está sujeita à aprovação prévia do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e demais órgãos públicos.

Armando Ferrentini é publisher do PROPMARK