A comunicação virou uma enxurrada de entulhos. A menos que você tenha objetivos muito claros em sua busca, ao acionar seus meios de acesso à informação, será virtualmente atropelado por uma avalanche de mensagens, em que já não se distingue claramente o que é notícia e o que é propaganda.

Tudo ocupa o mesmo espaço ao mesmo tempo. Paralelamente, com o acirramento do debate político, a recorrência a determinados temas, de preferência polêmicos, transforma a mensagem informativa em doutrinação com objetivos eleitorais, gerando um permanente estado de instigação emocional.

Trata-se sempre de algum conceito a contestar ou a defender. A propaganda, por sua vez, vê-se na obrigação de algum engajamento, a fim de conquistar nichos, engrossando o caldo propício a enfrentamentos ideológicos.

A desordem com que esse conteúdo circula, ainda que, em tese, obedecendo a algum tipo de predeterminação, ao ingressar no espaço acessível à nossa percepção, perde essa característica, e se torna mais um item a correr pela tela, entre tantos outros, menos ou mais interessantes, ou absolutamente desinteressantes.

Tudo se nivela, de um relato científico a uma piada homofóbica; de um comercial para o Dia das Mães a uma abordagem policial; de uma sugestão de viagem a um ato de racismo; de um gol de bicicleta a um avião arremetendo; de uma receita de comida a um flagrante de infidelidade. O mundo da comunicação virtual, percorrido aleatoriamente, principalmente por quem tem interesses ecléticos, é uma verdadeira zona. Talvez aí resida o segredo do seu fascínio, essa oportunidade de ter um apanhado geral do que, na média, estamos nos transformando. Nesse mundo, tudo é revelado, sem disfarce, porque é um mundo à feição para uma exposição inescrupulosa da sociedade.

Se no mundo real, há um certo pudor, no mundo virtual não há nenhum, seja de comportamento, seja de opinião. Se no mundo real há um certo compromisso com a realidade, no mundo virtual, o caminho é livre para o desenho da vida que se desejar.

É um mundo onde compromisso e descompromisso têm o mesmo espaço e o mesmo tempo, o mesmo poder e a mesma tolerância. Fico me perguntando, certamente como muitos outros, sobremaneira gente mais velha, a que diabo de situação isso vai nos levar.

Porque se nós, os mais adultos e preparados, somos treinados, com a idade, a separar o joio do trigo, mesmo aquele joio a que técnicas apuradíssimas deram forma de trigo, o que ocorrerá com as novas gerações, que se formam sob a tutela desse permanente estado de manipulação e toda sorte de estímulos contraditórios?

Sem contar o fato de permanecerem, horas e dias, plugados a jogos e desafios, extensões humanas de seus aparelhos, fazendo literalmente da virtualidade a sua vida. Para além das questões psíquicas, é preocupante o que esse desligamento pode provocar no comportamento relativo à vida real.

Hoje, fala-se muito em engajamento. Mas há muito pouco de mobilização. Está todo mundo ocupado virtualmente, inclusive em discutir o assunto. Como eu, nesse texto.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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