Conversando recentemente com o Armando Ferrentini, sugeri-lhe que a propaganda deveria ter uma Academia, composta com 40 de seus membros mais ilustres, aqueles que estão contribuindo para o desenvolvimento e a dignidade da profissão. Você, leitor ou leitora, deve estar entre essas 40 pessoas.

Mas atualmente creio que os membros do Conselho da ESPM poderiam compor uma primeira Academia. Vou conversar com o Dalton Pastore.

Sou o membro com menos méritos da Academia Paulista de Letras. Modestamente, nem sei por que me indicaram para ocupar a cadeira 21, em agosto de 2015.

É certo que eu sempre vivi de escrever e tive uma influência no estilo adotado pelos redatores de anúncios, comerciais e material de propaganda, e lutei muito para dar dignidade a uma profissão criativa que era olhada como uma atividade menor.

Mas ser membro da Academia era mais importante, para mim e para meus colegas de profissão, do que todos os prêmios ganhos em concursos nacionais e internacionais.

Havia uma simbologia na indicação, que torna única a Academia Paulista, que, exatamente por ser paulista, reflete a mentalidade dessa metrópole onde o trabalho criativo, seja ele musical, jurídico, fotográfico, educacional, literário, jornalístico ou publicitário, é reconhecido por seu valor intrínseco.

Tanto que a Academia já teve um publicitário como membro, Ernâni Donato, e um diretor de publicidade da Olivetti, Mario Chamie, embora esse já fosse, na época, um dos principais poetas brasileiros.

Não sou um autor literário significativo; sou, no máximo, um superleitor. Mantinha quatro bibliotecas, três em São Paulo e uma no Rio de Janeiro.

Com o tempo e com a proximidade do fim, doei três delas, para entidades que dariam continuidade às coleções. Escrevi somente 8 livros, sendo dois técnicos e seis de frases significativas, que têm valor por si mesmas.

A concisão e a inteligência de uma frase — onde quer que ela esteja, quem quer que seja o seu autor e em que circunstância surgiu — sempre me atrairam muito. Comecei a colecioná-las como uma apoio à minha profissão e surpreendeu-me quando a coleção foi transformada em livro. Deles, o de maior sucesso é o ‘Duailibi essencial’, que já teve 12 edições.

Aceitei a honra de pertencer à Academia Paulista de Letras com a intenção de torná-la mais conhecida — criando um site com boa qualidade gráfica e baseado nas 40 excepcionais pessoas que compõem a Academia.

O simples fato de publicar anúncios em que os acadêmicos eram fotografados e tinham seus nomes divulgados coletivamente fez uma grande diferença para a importância da entidade.

Não sei se é opinião da Academia, mas eu reconheço que as mídias digitais tornaram-se aliadas da literatura; nunca se escreveu tanto como hoje.

Tenho o hábito de ler uma página de um livro, deitado na cama. Assim variam muito meus livros de cabeceira, mas não dispenso Machado de Assis e Graciliano Ramos.

Agora estou lendo a biografia de Elon Musk e o delicioso livro de Michiko Aoyama, ‘A biblioteca dos sonhos secretos’. Leio também todos os livros lançados pelos acadêmicos — nesse momento, a notável obra de pesquisa de Dom Fernando Figueiredo, ‘A mística teológica na Igreja dos primeiros séculos’, e Maria Adelaide Amaral, Chalita, Mafra Carbonieri, as crônicas históricas diárias de Renato Nalini e as lições sobre seguros do presidente da Academia, Antonio Mendonça Penteado.

Não dispenso a leitura de livros lançados por nossos colegas publicitários, os últimos de Pedro Galvão, Paulo Tiaraju e Stalimir Vieira. E vou comprar o livro do Boni.

Terminei de escrever o livro sobre outro titular da cadeira 21, Ibrahim Nobre, o grande orador da Revolução de 32. Tenho a biografia escrita também do banqueiro Joseph Safra, que era muito amigo meu. Mas meu projeto mais querido era um livro com as melhores fotografias publicadas na imprensa nos últimos dez anos.

Entre várias mudanças de escritório, perdi a pasta onde guardava as fotos. Sei que ela está por perto, mas não consigo encontrá-la. O momento que isso acontecer, será um dos momentos mais alegres de minha vida.

Roberto Duailibi é escritor, publicitário e um dos fundadores da DPZ