A retomada dos abraços pode ser vista novamente na parceria entre dois setores que tiveram impactos antagônicos durante a pandemia: de um lado, o de eventos, o primeiro a fechar suas portas com as medidas restritivas que impactaram 97% de suas empresas e deixaram para trás R$230 bilhões nos dois últimos anos, segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos, a ABRAPE; do outro, o agronegócio, que numa conversa com Pedro Estevão, coordenador do conselho de expositores da Agrishow e presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da ABIMAQ, uma das realizadoras do evento, relatou se tratar de um setor com crescimento durante a pandemia, 17% em 2020 e 42% em 2021.

Mas quem vê a bonança presente no retorno da Agrishow não imagina os desafios vividos durante a tempestade da Covid-19. O cenário de incertezas foi modelado com ações estratégicas nas plataformas digitais, o que manteve a audiência por meio de um relacionamento encorpado com conteúdos técnicos e diálogos certeiros com o público. O saldo foi tão positivo que algumas ações serão incorporadas ao evento. Uma delas é o “Agrishow para Elas”, com a presença de mulheres que estão cada vez mais ocupando lugares de destaque neste universo predominantemente masculino.

O protagonismo feminino se encontra ainda em outra ponta, sob a organização de Liliane Bortoluci, diretora de feiras da Informa Markets, empresa organizadora. Sua expectativa pela retomada do evento é composta pelo propósito de superar a marca de R$ 2,9 bilhões de negócios gerados na edição de 2019, assegurada pelo cenário que compõe 800 expositores que esperam receber mais de 150 mil visitante nos 500 mil m² do evento. Os números otimistas caminham junto com as confirmações antecipadas pelo público, hotéis lotados e o alto fluxo de compra de passagens aéreas rumo à cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

A tecnologia é uma das principais aliadas da feira. Com novidades das gigantes nacionais e internacionais, o desafio permanece em oferecer soluções que possam atender, na mesma medida, o pequeno empreendedor rural, que compreende 5% do PIB brasileiro. Trata-se de um perfil que ainda carece de conhecimento e treinamento, além do acesso financeiro às novidades. Porém, esta preocupação se encontra no radar tanto da Agrishow quanto do Ministério da Agricultura, que se empenham para diminuir a impossibilidade deste acesso. Mas este desafio pode ainda encontrar apoio nas startups presentes no evento com a missão de apresentar inovações para o mercado. Numa reflexão com Pedro Estevão, acredito que uma tecnologia que preveja o aumento da produtividade e a precisão da localização do problema no campo deva caminhar ao lado de máquinas autônomas e da geração, transmissão, análise e aplicação de dados, com soluções comercialmente acessíveis, atreladas a premissas de proteção do solo e sustentabilidade.

Num outro panorama de impacto no agronegócio do Brasil, destaco a guerra entre Rússia e Ucrânia e a eminente preocupação brasileira com fertilizantes. Assim como a crise pandêmica criou oportunidades, o conflito entre essas duas potencias abre uma janela para o desenvolvimento de pesquisas e exploração de outras fontes de insumos e novas técnicas de produção. Embora o estoque nacional esteja em um cenário relativamente seguro, mantemos a expectativa pelo cessar fogo. Enquanto isso, deste lado do planeta, nosso solo fértil e privilegiado permanece sendo o grande herói econômico do agronegócio brasileiro.

Marcio Duarte é especialista em marketing e diretor da MD COM & MKT marcio.duarte@mdcommkt.com.br