Desde a pandemia, que acelerou a adoção do digital por consumidores e varejistas, e aqui, me refiro à escala fora dos grandes comércios, muitos pequenos lojistas tiveram de remover o “s” da palavra “crise” para se reinventar, falar e vender para os mesmos consumidores ora atendidos por marcas e canais com linhas de investimento, fornecedores, tecnologias.

O crescimento exponencial de novos negócios foi registrado já na pesquisa Panorama de Negócios Digitais Brasil 2020, promovida pela HeroSpark, que apontou que 54% dos empreendedores digitais começaram durante a pandemia. Além disso, quase 90% das empresas do país aceleram seus projetos de transformação digital ainda no primeiro ano de pandemia. E não foi necessária uma solução de comércio eletrônico, domínio em mídia de performance, gestão de redes sociais ou qualquer outra disciplina crucial para quem é profissional desse universo. Bastou o primeiro passo: a iniciativa. E, sinceramente, é isso que me apaixona no digital. Trata-se de um ambiente em que, uma vez com acesso e o mínimo de recursos, já se abre um mundo de possibilidades para quem se dispõe a fazer diferente, se permite errar e começar de novo, até que encontre o que deseja (ou o que jamais imaginou) buscar.

Se a conversão ocorre por meio de áudio no WhatsApp, direct do Instagram, porque sou um dos 17 seguidores do meu vizinho no Twitter, ou mesmo porque fui lido em um comentário de um meme sobre secador de cabelo em um grupo de mães no Facebook, é irrelevante. O que importa é que funciona, e mostra uma nova faceta do consumidor digital, que talvez descobríssemos em décadas: ele também é suscetível a estratégias caseiras, convertendo e fidelizando tão bem (naturalmente, nas devidas proporções) quanto às refinadas estratégias de operações multibilionárias.

“Ok, Carreira, mas aonde você quer chegar?”. Acho peculiar, em especial na propaganda, nos referirmos a algoritmos como um dispositivo óbvio, tal qual um monitor, teclado, carregador etc., e é justamente aqui que pretendo chegar. No contexto da informática, podemos dizer que algoritmo é uma série de comandos e procedimentos criados com o intuito de responder a uma problemática, em outras palavras, um software, mesmo que seja programado em um micro- sensor exclusivamente para (des)ligar uma lâmpada. Já no contexto da comunicação, é a forma que usamos para nos referirmos à inteligência artificial embarcada nas redes sociais, streamings e smartphones, entre outros.

Mas vamos deixar o tecniquês de lado e ir ao que interessa: dados. Sem eles, o que apresentei no início deste artigo certamente seria diferente, pois o dado é a força motriz do que alguns estudiosos chamam de a nossa próxima fase da sociedade: a do conhecimento.

Hoje, em nossos bolsos, temos um poder computacional muito mais poderoso do que a NASA tinha quando mandou o primeiro astronauta à Lua, no fim dos anos 1960. Smartphones, smartwatches, smartbands, smartTVs e smartwhatevers nos dão conforto e, paralelo a isso, também nos monitoram. Particularmente, não acho invasivo, uma vez que, como bem disse Dora Kaufman, uma das maiores especialistas brasileiras em I. A.: “(...) não temos mais como discutir a privacidade, precisamos discutir a transparência”.

Não geramos dados apenas quando postamos no TikTok, descobrimos uma nova músic Zoom no Spotify ou realizamos uma conferência no Zoom. Esta respirada que você acabou de dar, aliás, pode ter virado um dado, dependendo da autorização concedida ao seu smartband. É fato que o dado isolado dificilmente terá alguma utilidade, o que por si só já o torna inútil e, por conse-
quência, obsoleto.

Mas é aí que os cálculos estatísticos entram, pois são eles que trabalham com todos os valores para apontar a importância de uma ação pautada em probabilidade com base nas análises e eventos anteriores. Por isso, para mídia, muitas vezes é necessário dar o tempo que chamamos de aprendizagem para que a inteligência artificial colete informações da campanha em andamento, aprenda e se aperfeiçoe.

Se de um lado temos um volume colossal de dados e, do outro, cálculos sofisticados que podem dar significado às combinações distintas, o ingrediente final é a programação, que em parte é o algoritmo para conseguir trabalhar esse volume de dados em escala, realizando milhares de modelagens em milésimos de segundos para responder a questões como, por exemplo: o que você vai querer assistir após ler o próximo post?

O novo turbilhão de dados injetados nos algoritmos neste período de pandemia, fomentado pela “nova” classe de comércio, em que lojas e consumidores se adaptaram para fazer negócios, vai exigir muito processamento do algoritmo para replicar a nossa brasilidade em reinvenção.

Carlos Carreira é CPO da Audaz