No cenário atual de negócios, é inegável que a relação entre marcas e consumidores está em constante transformação. O termo people centric refere-se a uma filosofia de negócios que coloca o cliente no centro de todas as decisões e ações da empresa. A busca por compreender as necessidades e os desejos do seu consumidor é uma das principais missões das marcas.

No mercado publicitário, principalmente no de agências, o formato de trabalho e contratação é angustiante. Concorrências o tempo todo, feedbacks simples e não elaborados o suficiente para que possamos melhorar a entrega, o prazo de entrega de projetos. Ah, como é difícil ser empreendedor e participante desta realidade!

Se todos nossos projetos e clientes possuem o people centric como premissa, fiquei pensando também por que as agências que prestam serviços com base neste princípio também não consideram essa premissa em sua cultura?

Após essa reflexão, desde o fim de 2022, – o ano de recuperação do setor de brand experience e diversas entregas pelo nosso time que, ao final do período, estava esgotado, pensei e coloquei como premissa que as pessoas seriam nossa preocupação maior.

Claro que não fizemos mudança da água para o vinho no dia a dia e não conseguimos mudar a cultura do setor quanto às concorrências, mas estamos, sim, pensando nas pessoas e no dia a dia.

Como posso oferecer melhor condição de trabalho ao meu colaborador? A quais ferramentas ele precisa ter acesso? Como posso estimular o colaborador num mercado tão competitivo? Como posso facilitar o cotidiano dele para um melhor desempenho profissional? Essas são as perguntas diárias dos líderes de qualquer negócio e devem ocorrer principalmente nas agências.

Agências que se preocupam com os seus funcionários certamente obterão melhores resultados, não apenas financeiro, mas também na qualidade das entregas dos colaboradores, além de uma maior integração e mais saudabilidade no ambiente de trabalho. Isso pode parecer mais um comentário de coach sobre cultura de empresa, mas temos de perceber que a implementação e o uso da inteligência artificial será um poderoso aliado nesse processo de retenção de talentos, otimização das tarefas diárias, maior produtividade e melhores condições aos colaboradores.

Claro que a discussão sobre o uso da inteligência artificial tem sido debatida de modo exaustivo por não entendermos o limite, a ética e como ela será bem aproveitada no futuro. Contudo, ao mesmo tempo em que pode ser vista como um “adversário” humano, ela também deve ser entendida como uma poderosa ferramenta de facilitação nas entregas cotidianas.

No SxSw de 2023 que teve a inteligência artificial como um tema principal e a principal tendência, ouvimos de diversos palestrantes o quanto seu uso pode ser benéfico e que ela não “roubará” empregos, mas será, sim, uma grande aliada nas tarefas cognitivas do dia a dia.

Ian Beacraft, CEO da Signal and Cipher, disse: “A IA pode parecer assustadora, mas ela só está potencializando o que o humano já faz há muito tempo: matar tarefas com a ajuda das máquinas. Durante a revolução industrial, pegamos todo o poder físico do homem e o potencializamos com as máquinas. Agora, estamos fazendo isso também com a mente, digitalizando nossas habilidades”.

Greg Brockman, CEO da OpenAi, mencionou que a inteligência artificial não vai substituir o ser humano, mas, sim, amplificar suas habilidades. Além de substituir as tarefas mecânicas, ela tem muito a acrescentar no trabalho cognitivo. “Esses novos assistentes não serão perfeitos, mas estarão lá para ajudá-lo 24 horas por dia, sete dias por semana”.

Diante de tantos insights poderosos no SxSw 2023, no Rio 2C, que também trouxe diversos pontos de vista sobre AI, chegamos à conclusão que as agências precisam investir não apenas em ferramentas de coleta e análise de dados, pesquisas, mas também em inteligência artificial para oferecer o melhor aos seus colaboradores.

Primeiramente, para preparar seus funcionários para o futuro, independentemente se eles ainda estejam na agência ou tenham vestido outra camisa, além ainda de terem um dos benefícios mais significativos do uso da inteligência artificial, que é a otimização dos processos internos. Atividades rotineiras, como segmentação de públicos, análise de métricas, criação de relatórios, criação de imagens e finalização de arquivos digitais e desenvolvimento do storytelling, entre outros, podem ser agilizadas com a automação inteligente, poupando assim os colaboradores de uma rotina viciante, desgastante e sem tempo hábil para o "ócio criativo".

Ao delegar as tarefas mais repetitivas e mecânicas à inteligência artificial, a agência também reduzirá significativamente a hora homem das suas pessoas, permitindo a elas que tenham mais tempo para se dedicarem em situações que as alavancarão profissionalmente e até mesmo mais descanso ao alocarem de forma mais engenhosa o seu tempo.

É importante destacar que, apesar deste artigo prever a defesa e o uso crescente da inteligência artificial, em todo momento seu foco principal é como fornecer melhores ferramentas aos colaboradores para otimização dos processos e tempo, prepará-los e adaptá-los culturalmente para uma nova realidade.

Talvez o título deste artigo provoque confusão e curiosidade no sentido “o que torna uma agência mais people centric?”. Mas isso foi proposital, pois na minha reflexão, uma agência people centric é aquela que tem o seu colaborador no centro de tudo. Por natureza, a maioria delas já atuam assim, mas apenas para o público-alvo do cliente e às vezes se esquecem de quem entrega todas as campanhas, experiências, entre outras frentes. São seus colaboradores e a inteligência artificial poderá ajudá-los e muito no cotidiano. Mas nunca podemos esquecer que a presença humana ainda é imprescindível no processo, afinal, a criatividade, a empatia e a capacidade de interpretação humana são fundamentais para criar estratégias e projetos verdadeiramente eficazes e impactantes, independentemente das ferramentas que venham a ser utilizadas.

Edinho Potsch é fundador da agência e co-CEO da Sherpa42