Estou acostumado a viver a produção audiovisual pela ótica do realizador, por trás das câmeras. Contudo, neste ano, tive a oportunidade de participar como jurado em diversos festivais e analisar o trabalho de outros diretores. Um papel muito diferente, mas incrivelmente enriquecedor. Para mim, não se trata apenas de assistir a filmes; trata-se de mergulhar profundamente nas histórias que cada diretor deseja contar, de compreender suas escolhas estéticas e técnicas e, principalmente, de absorver a essência de cada obra. Esses festivais não apenas ampliaram os meus horizontes como cineasta, mas também me proporcionaram uma visão mais clara sobre o impacto dos prêmios na evolução do cinema contemporâneo.
De olho nas telas, um aprendizado inesperado surgiu. Seja pela qualidade das produções, pela diversidade cultural dos filmes ou pelas discussões e trocas de ideias que ocorreram nos bastidores, absorvi muitas coisas novas. Ao assistir às obras selecionadas, fui transportado para universos completamente novos. Alguns filmes abriram portas para culturas que até então eram pouco exploradas, enquanto outros me desafiaram a repensar as minhas perspectivas. Houve, ainda, aqueles filmes que abordaram temas universais de maneira sensível e impactante, tocando questões que são atemporais e de relevância global.
Ser jurado em um festival exige mais do que apenas uma opinião sobre o que é “bom” ou “ruim”. A avaliação de um filme vai muito além da superficialidade. É uma tarefa que exige uma escuta atenta, um olhar crítico e uma empatia profunda pela proposta do diretor. Sempre me questionei: o que essa obra realmente conseguiu transmitir ao público? Como ela fez isso? O que me toca na sua narrativa e no seu estilo visual? Essas são perguntas essenciais que, como jurado, busquei responder ao longo de cada julgamento. Uma das lições mais valiosas que aprendi foi a importância do equilíbrio na avaliação de filmes. Nos festivais, as obras apresentadas são de uma diversidade impressionante: desde grandes produções de orçamentos robustos até filmes mais modestos, produzidos com recursos limitados, mas repletos de criatividade e emoção.
Cada obra deve ser julgada por seus próprios méritos, e isso exige imparcialidade. Não podemos simplesmente comparar um filme independente com uma grande produção; é fundamental avaliar a autenticidade, a qualidade e o impacto de cada obra dentro do seu contexto. Além disso, o processo de discussão com os outros jurados foi uma parte crucial da experiência. Cada um de nós trouxe sua bagagem cultural, suas referências e sua sensibilidade para a mesa. As conversas que tivemos, muitas vezes acaloradas, mas sempre respeitosas, ampliaram minha visão sobre as obras e sobre o próprio cinema. Esses debates não apenas enriqueceram minha análise, mas também me ajudaram a perceber as camadas mais sutis que muitos filmes possuem.
Outro momento marcante dessa jornada foi o reconhecimento de novos talentos. Ter a oportunidade de premiar um filme independente ou destacar um diretor estreante é uma responsabilidade que carrego com muito orgulho. Sabia que, de alguma forma, minha decisão poderia influenciar o futuro daquele cineasta, ajudá-lo a ganhar visibilidade e a avançar na sua carreira. Isso é, para mim, um dos maiores valores de ser jurado em um festival: contribuir, ainda que de maneira modesta, para o crescimento da indústria cinematográfica e para o reconhecimento de novas vozes.
Essa experiência me transformou profundamente. Meu olhar crítico foi aprimorado, sem dúvida, mas a verdadeira mudança foi em meu entendimento sobre o papel do cinema na sociedade. Ser jurado é mais do que uma função técnica; é um exercício constante de empatia, sensibilidade e conexão com o mundo. Cada sessão assistida, cada debate travado e cada escolha feita foi uma oportunidade de aprender algo novo, de entender diferentes perspectivas e de celebrar a arte em sua forma mais pura.
No final, percebi que o maior valor dessa experiência é justamente a possibilidade de enxergar o mundo por meio das lentes de tantas culturas e histórias diferentes. O cinema é uma poderosa ferramenta de comunicação e reflexão, e ser parte desse processo de avaliação é um privilégio que me moldou como diretor e como ser humano.
Ricardo Souza é diretor de cena da Saigon