Há muito tempo, nos anos 1960, auge da Jovem Guarda, Wanderléa iria se apresentar no Cine Santa Maria, em Rancharia, interior do estado de São Paulo.
Um evento low budget, quase uma ação entre amigos. Verba para publicidade? Nenhuma.
A tarefa de contar a todos sobre o show ficou para o Fumika, grande talento da cidade. Eu era um menino curioso, rapidamente me voluntariei como assistente do artista. E foi assim que tudo começou...
Fumika era um artesão. Combinava várias técnicas para atingir seus objetivos.
Pegou uma caixa de madeira no mercado, atrás do posto de gasolina, uma cartolina na papelaria do Zuza, papel celofane colorido da dona Cidinha, um vazador de couro da sapataria do seu Domingos, quatro soquetes de cerâmica e quatro lâmpadas de 40 watts.
Fez um rascunho do cartaz na cartolina, furou os contornos de todo o texto com o vazador, colou o celofane por trás colorindo áreas específicas do desenho, instalamos as lâmpadas e... voilá!
Um backlight improvisado fez do show o maior sucesso. Isso tudo é repertório criativo. Todas as experiências, cores, sons, sabores, aromas, observações cotidianas, influências culturais, textos, imagens e histórias ouvidas na infância do pequeno Fumika se transformaram em combustível para acender essa chama de inspiração que levou à solução criativa.
Catarse, depois de uma escalada de tensão que se iniciou quando o briefing do show da Wanderléa no cine Santa Maria surgiu.
O repertório criativo é sempre vasto, e tem fome de expansão: bênção. Mas nunca está completo, sempre precisando de um refill ou atualização e, uma vez acionado, será sempre a razão de ser do criativo: maldição? Fumika viveu para acompanhar algumas das incontáveis fontes digitais de inspiração que temos à nossa disposição nos dias de hoje, inflando nosso repertório criativo exponencialmente.
Mas não o suficiente para utilizar os prompts de geração de arte com inteligência artificial... Pump my repertório criativo! Ele certamente iria amar o trabalho do Riccardo Fusetti, Generation, os dois minutos de vídeo mais interessantes do momento, obrigatoriedade em todo repertório criativo.
Final thoughts?
Criativos, aceitem. Benção ou maldição, é o que somos.
Big ideas para todos!
PS: Caso você queira sugestões de fontes para alimentar seu repertório, comente informando sua área de atuação. Eu te mando algumas sugestões adequadas ao apetite da sua bênção/maldição.
João Mosterio é CCO da Audaz