Havia um tempo, não muito distante, em que os canais eram abertos, poucos e com audiências enormes. A tecnologia trouxe para as nossas vidas dezenas e depois centenas de canais a cabo. Veio a fibra e o streaming nos trouxe dezenas de milhares de canais transmitindo sua programação em busca daquilo que é mais precioso na era da atenção: o tempo das pessoas.
Em 2009, foi criado o botão like. E de repente, as redes, que faziam o papel contemporâneo de expressão pessoal ou um “diário” aberto de experiências, se tornaram um canal de comunicação com programação eclética, editorias, programas de culinária, política e com a possibilidade de serem monetizados de duas maneiras: com a recompensa financeira e a emocional. O like trouxe mensuração de audiência (e os robôs?) e o disparo de hormônios do bem-estar de aceitação e pertencimento.
Foi assim que passamos a ter não milhões de canais de comunicação, mas bilhões e bilhões deles disputando o seu olhar em meio ao scroll hipnótico infinito. Como criar marca nesse contexto da economia da atenção? Ou melhor dizendo, como não se perder na construção de marca em meio a bilhões de canais disponíveis e disputando o mesmo ativo: atenção e tempo?
Todos os dias, um ser humano ganha 86.400 segundos de tempo para fazer um trade com a vida. Se subtrair 28.800 segundos dormindo e 10.800 segundos fazendo as refeições, o restante desse artigo precioso que herdamos indiscriminadamente vai para as outras atividades como trabalho, interações sociais, família e audiência. Qual a programação do seu canal que vai convencer uma pessoa a oferecer para sua marca aquilo que lhe é mais precioso e escasso, que é a sua atenção em seu tempo limitado? Sabemos que o que mais engaja a audiência são os pecados capitais. Mas não é muito esperto colocar marca junto com eles. Vai ser a história da sua empresa? Você vai ter um clube de admiradores? Serão os seus valores, seu tom de voz? E como furar a bolha? Manter um canal de TV ou um perfil nas redes sociais requer investimento, demanda muita energia e recursos financeiros para ganhar audiência. Porém, o que mais acontece é no final ter de comprar a sua audiência. Como qualquer outro canal ou veículo. Aliás, “orgânico” é uma palavra que cabe cada vez mais às batatas, não à tecnologia ou comunicação.
A economia da atenção precisa de cada um desses segundos e as empresas que anunciam mais ainda. Isso porque todo ser humano nasce com um problema grave contra as mensagens comerciais que não engajam. Por isso que existe o meu trabalho. O post, seja de um influenciador, de uma pessoa normal ou marca, faz parte de uma programação que deseja seduzir a audiência. Todos (qualquer meio ou plataforma) querem ser Boninho, querem criar formas de interagir com a audiência e algum tipo de interação que desperte emoções, aceitação, dopamina etc.
E no meio desse universo de canais boiando no tecido da atenção, está a criatividade tentando chamar a atenção das pessoas. Mas criatividade de fato não é quantidade. É uma lógica de seleção. É rara. Precisa ser original. Aparentemente não interruptiva e por isso é cara. A quantidade pregada pelas plataformas ajuda muito. As plataformas. A criatividade, em qualquer canal, seja no social, na TV, antes do filme preferido ou no rádio, é o atalho que mostra à audiência que vale o tempo investido em atenção, pois a marca lhe trata como uma pessoa inteligente, igual e por isso você segue, engaja, comenta e distribui esse conteúdo. É isso, ou aquele perfil de shih tzus imperdível. Temos o tempo contado até não o ter mais. Tempo e atenção disputados por todos esses bilhões de canais. E quando a gente fala de tempo, não podemos esquecer que, além de escasso e frágil, é, também e acima de tudo, relativo.
Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br