Como tantos outros anglicismos, nos acostumamos também com a forma de nominar um líder de departamento ao american style, começando com C (chief) e terminando com O (officer).

É engraçado porque, na tradução para o português, teríamos uma expressão já em desuso no Brasil: chefe.

Nós não nos referimos ao líder de um setor ou departamento como chefe... Mas em inglês fica chic...

Então é bastante comum vermos com naturalidade um presidente ser nominado CEO; o financeiro, CFO; o líder de Operações, COO; e assim por diante.

Mas o que me motivou a escrever este artigo foi a tendência, entre tantas funções novas que a tecnologia e o mundo digital trouxeram, da criação de algumas relacionadas à felicidade corporativa.

No meu artigo anterior, aqui mesmo neste espaço, me referi à chief hapiness officer de uma grande empresa de bebidas.

Aliás, tal função existe nos dois maiores players de cervejas do Brasil: Ambev e Heineken. Sim, felicidade virou assunto corporativo.

Num primeiro momento, essa atitude pode causar estranheza ou mesmo ser considerada uma jogada de marketing.

Mas, acredite, felicidade é, sim, assunto corporativo. Profissionais da gen Z não estão correndo atrás de dinheiro, como foco principal, eles querem mais: eles querem trabalhar num ambiente respeitoso, inclusivo, harmonioso.

Eles querem trabalhar numa empresa com propósito, com Missão, Visão e Valores que extrapolem o lucro, e que foquem também nas pessoas e no planeta.

Como na música dos Titãs: “a gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade”.

Um dos efeitos pós-pandemia, foi o questionamento de trabalhadores quanto ao melhor local (e formato) para se trabalhar.

Com esse questionamento, veio a tal Great Resignation (demissão em massa). Somente em 2021, estima-se que mais de 47,5 milhões de profissionais americanos deixaram seus empregos voluntariamente nos EUA.

Para os gestores de RH – CHRO – a retenção de talentos virou um problema.

E essa preocupação deve ser levada para os mais altos escalões da administração das empresas. Porque, o que é necessário é uma revisão de governança, com a incorporação natural de uma cultura que esteja alinhada aos anseios dos novos talentos, mas também – e principalmente – às demandas da sociedade.

E eu extrapolaria a questão da felicidade para o conceito mais amplo, traduzido na sigla ESG. O universo S do acrônimo trata das questões sociais de DEI, de respeito, dignidade e – é claro – felicidade e bem-estar.

Mas não podemos nos esquecer também do E, de Environmental (questões ambientais). E principalmente do G, de Governança, que, de tão importante, deveria ser o primeiro da sigla (GES?) porque tudo deve começar com a governança.

O conselho e o board de gestores das empresas devem incluir nas suas pautas essas questões e levá-las em conta no planejamento estratégico.

E não só para atender às demandas da sociedade e de seus talentos, mas para performar melhor. Está mais do que provado – um amplo estudo da Standard & Poor’s demonstra isso: empresas alinhadas a esses princípios são as mais lucrativas.

Então, se você, gestor de empresa, acha tudo isso secundário, coisa de ecochato e patrulheiro social, pense outra vez. Está mais do que na hora de incorporar os princípios do triple bottom line (lucro, pessoas e planeta) e do ESG na administração do seu negócio.

Que tal começar criando a função de chief ESG officer? Sabemos que ESG é transversal e deve ser considerado em todos os setores da empresa, mas é bom ter um
profissional dedicado a catalisar e organizar o processo, não?

Pense nisso!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br