Sempre fui adepta do movimento. Ficar parada nunca foi possível para mim. Sabe aquela rotina de parar o trabalho num certo horário e aproveitar o restante do dia para fazer algo prazeroso? Até três anos atrás, nunca tive essa pausa. Porque, para mim, o prazer sempre esteve no trabalho. E foi com essa dinâmica que me estabeleci no mundo corporativo e ganhei o título de workaholic. Cheguei a ter orgulho disso. Só que não mais.

Há três anos e meio, descobri o triatlo e decidi encarar esse esporte que une três modalidades (nada-pedala-corre). De lá para cá, participei de algumas provas, das menores às mais desafiadoras, como o Ironman 70.3 (milhas). Completar um Ironman, ainda que na meia distância, foi algo grandioso, transformador.

Nunca me senti tão gigante, apesar do meu 1,55 m de altura. Pegar a medalha de finisher de um desafio desse aguçou todas as minhas potencialidades, reforçou minha crença nas minhas capacidades e me fez descobrir uma força interior até então desconhecida.

Já estive em duas edições do Ironman 70.3. Na primeira vez, em abril deste ano, eu larguei me perguntando como daria conta de, sem parar, nadar 1.900 metros, pedalar 90 km e correr 21 km. É incrível perceber que a mágica acontece. É só cumprir a jornada intensa e volumosa de treinos que funciona. E é essa rotina que me inspira. Aprendi a importância de seguir em movimento, porém, de maneira harmoniosa, equilibrada, colocando em sintonia corpo e mente.

Neste esporte, aprendi a ler os sinais do corpo, entender de quais comandos minha cabeça precisa para não me boicotar. Entendi a necessidade de estar presente na ação, de forma plena, com o corpo, a mente e o coração.

Não dá para executar uma modalidade pensando na próxima. O foco é o agora, o que de melhor eu posso fazer agora. E assim é possível evoluir, dia após dia. Perceber essa evolução dá ânimo para fazer cada vez mais, tornando a dedicação ao processo um círculo virtuoso: corpo mais forte, mente mais forte; corpo mais forte, mente mais forte…

Quando eu me percebo como o centro desse círculo, a sensação é de ser inabalável, e tudo aquilo que um dia eu achei grande se torna menor, mais facilmente transponível.

Os problemas do dia a dia viram apenas intercorrências, com as quais eu lido com mais afeto, justamente por não enxergá-las mais como um problema.

Transformar as animosidades em diálogos construtivos passou a ser um hábito, à medida que consigo ajudar as pessoas a olharem para aquilo que as incomoda sob uma outra ótica.

Da mesma forma que conduzo meu corpo para aquela linha de chegada, mantendo o equilíbrio entre corpo e mente, nas situações de trabalho, eu sou capaz de levar o outro a um novo pensar, no qual o desafio em questão passa a ser possível e passível de resolução.

Hoje, essa minha habilidade é fundamental para o modelo de trabalho que escolhi vivenciar. Atuo em rede, um ambiente onde impera a colaboração e a cocriação, e onde comando e controle não têm vez. A harmonia e o equilíbrio das relações são essenciais para que os profissionais sigam enredados, entregando sua energia e força de trabalho por opção, e não por obrigação.

A crença na capacidade da união de saberes é vital para que a rede sobreviva. E assim, mais uma vez, eu vivo um círculo virtuoso: acreditamos no nosso potencial, sabemos onde podemos e queremos chegar e, por isso, entregamos cada vez melhor, atraindo novos clientes e novos projetos.

Porque somos todos dedicados e incansáveis, mas não workaholics.

Thays Aldrighe é idealizadora da Rede Tecere