Sociedades fragmentadas, polarizadas, diversas e que obrigatoriamente devem ser inclusivas. Mudanças climáticas cada vez mais evidentes.  Prós e contras da inteligência artificial, que segue como tema prioritário. Envelhecimento da população e imediatismo das novas gerações.

Entre as informações valiosas que agora circulam nos relatórios e pesquisas sobre comportamento, mercado e marketing com as tendências para 2025, é uma satisfação observar que a confiança, um valor ancestral, também se mantenha como palavra-chave em qualquer visão de um futuro próximo.

A pesquisa Ipsos Global Trends, cujo propósito é jogar luz sobre a atualidade, por exemplo, destaca 'The power of trust' (o poder da confiança, em livre tradução) entre os cenários e macrotendências para o próximo ano.

É uma questão sobre a qual já se fala há algum tempo, mas que, na medida em que o mundo avança, não importa a direção, parece cada vez mais potente – e importante.

Segundo a pesquisa, 84% dos brasileiros dizem que estão dispostos a comprar novos produtos de marcas que já conhecem e em que confiam. A média global para a mesma questão é de 80%, o que, informa a Ipsos, faz com que nós, brasileiros, estejamos entre os que mais associam conhecimento e confiança de uma marca-empresa à nossa fidelidade a ela, inclusive para experimentar lançamentos de novos produtos ou serviços.

Outro aspecto determinante e que igualmente nos faz confiar –mais ou menos – é a “proximidade” do outro com os nossos valores.  Em dez anos, o número de pessoas que relacionam a escolha de um produto ou serviço a um alinhamento com seus valores pessoais cresceu 27 pontos percentuais, passando de 52% em 2013 para 78% em 2024, segundo a Ipsos. É uma mudança eloquente, que diz muito.

Entender a confiança como elemento que conecta todos os outros pontos que interessam é fundamental. 83% dos brasileiros acreditam que é possível as marcas apoiarem causas sociais sem deixar de terem lucro. Outros 73% dizem que preferem comprar produtos de marcas que apoiem essas causas, mesmo que signifique gastar mais. Isso faz com que sejam mais confiáveis, obviamente.

Em síntese, além de consumidores cada vez mais conscientes –e exigentes –, o que implica no uso adequado das novas tecnologias – 80% dos brasileiros acham que o atendimento do cliente está cada vez mais frio, impessoal e automatizado demais –, há espaços a serem ocupados, sobretudo quando se trata de criação de publicidades memoráveis e confiáveis, nossa grande expertise.

A confiança, na prática, sempre foi um fundamento para montarmos, no melhor sentido, o quebra-cabeça do que é o agora.

E saber que isso não muda me fez lembrar até de uma frase atribuída ao economista e religioso francês Louis Joseph Lebret (1897-1966), que propôs uma visão mais humanista da economia, ainda na década de 1940. “Confiança não se impõe. Conquista-se”, disse Lebret. Mais atual, impossível.

Carol Boccia é copresidente da BETC Havas