Vivemos em uma era em que o crescimento se tornou um imperativo inquestionável no mundo dos negócios. O sucesso de uma empresa ainda é medido, majoritariamente, por sua capacidade de expandir mercados, aumentar lucros e escalar operações.
A lógica é simples e sedutora: se cresceu, está indo bem. Prova disso é a criação de cargos específicos com o termo “growth”, como o agora comum chief growth officer (CGO) — um símbolo do quanto o crescimento é, hoje, valorizado como propósito em si.
Há empresas que até substituíram o cargo de CMO (marketing) para CGO (growth). Mas até onde isso faz sentido? Crescer é algo natural e, muitas vezes, necessário. Na vida, os pais querem ver seus filhos crescerem, se desenvolverem, ganharem corpo e autonomia.
Mas há um limite: ninguém espera que uma pessoa continue crescendo fisicamente após atingir a idade adulta. Ninguém quer ter um filho de 2,5m. Um crescimento contínuo, sem controle, seria motivo de preocupação, e não de celebração. Para dramatizar ainda mais o argumento: o câncer é um crescimento desordenado e pernicioso de células.
Por que, então, seguimos esperando que as empresas cresçam indefinidamente? Por que seguimos tratando o crescimento como sinônimo de saúde, força e sucesso, mesmo diante de um planeta com recursos finitos e de sociedades marcadas por desigualdades cada vez mais profundas?
O modelo de capitalismo predominante transformou o crescimento em um fim, e não mais em um meio.
O resultado disso é a pressão constante sobre executivos e colaboradores para entregar sempre mais: mais vendas, mais retorno aos acionistas, mais presença em mercados, mais lucro. O problema é que esse “mais” tem custado caro ao planeta e às pessoas.
À medida que buscamos expansão contínua, estamos esgotando ecossistemas, agravando a crise climática e ampliando o abismo e a exclusão social. É tempo de repensar esse paradigma. E se, em vez de apenas crescer, empresas passassem a se comprometer com a transformação? A transformação, diferentemente do crescimento linear, não exige expansão constante. Ela se baseia na adaptação, na evolução dos modelos de negócio, na revisão de propósitos, e na responsabilidade com o coletivo.
Transformar é buscar relevância no longo prazo, e não apenas performance trimestral. É gerar valor para todos os stakeholders, não só para os acionistas.
É entender que sucesso também se mede pelo impacto positivo na sociedade e no meio ambiente. É focar na melhora, mais do que no crescimento, puro e simples.
É alinhar os bônus dos executivos a uma análise qualitativa e não somente quantitativa.
Empresas que transformam — e se transformam — tendem a ser mais resilientes em um mundo volátil e imprevisível.
Afinal, o futuro não pertence apenas aos grandes, mas aos mais ágeis, conscientes e conectados com as reais necessidades da sociedade.
Romper com a obsessão por crescimento infinito não significa abandonar o lucro ou a competitividade.
Significa reposicionar o crescimento dentro de um novo conjunto de valores: mais ético, mais humano, mais sustentável.
E, paradoxalmente, esse novo olhar pode resultar em empresas mais fortes, admiradas e perenes.
O crescimento, por si só, não é o vilão. O problema está na sua absolutização, na cegueira diante dos seus efeitos colaterais e na ausência de limites.
Ao substituir o “crescer a qualquer custo” por “transformar com propósito”, abrimos espaço para organizações mais equilibradas e capazes de contribuir verdadeiramente para um futuro melhor.
Talvez seja esta a principal mudança de mentalidade que precisamos promover no mundo dos negócios: não crescer para parecer grande, mas transformar-se para fazer a diferença.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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