Já tratei de Criativismo aqui neste espaço outras vezes, mas não custa relembrar o conceito por trás deste neologismo. O termo é resultado da junção de duas palavras de extrema importância nos dias de hoje: criatividade e ativismo.

A junção da criatividade com a vontade de fazer algo pelo bem da sociedade é o que pode melhorar as condições de vida e reverter um perigoso processo de degradação, seja ambiental ou social.

Trago o tema de volta porque estou no meio da cobertura do Cannes Lions 2024. No momento em que escrevo este artigo, o festival ainda está rolando.

Não tenho, portanto, a pretensão de fazer uma análise completa sobre os resultados do evento. O propmark faz isso com maestria!

Mas quero destacar a presença marcante de cases ousados, conscientes e ativistas entre os ganhadores de Grand Prix no festival. Vejamos o case da Ogilvy New York para Coca-Cola. A Coca-Cola assumiu compromissos ousados de sustentabilidade.

Entre eles, o de garantir a reciclagem de todas as suas embalagens, a partir de 2025. A campanha vencedora de Grand Prix na categoria Print & Publishing expressa, de forma ousada e impactante, esse compromisso.

Ao perceber a deformação do icônico logo da Coca-Cola ao amassar as latas de alumínio (processo que ocorre sempre na preparação para reciclagem), a agência teve a ousadia de propor o uso desses logos deformados na comunicação de estímulo à reciclagem.

O resultado impressiona. Afinal, que empresa aceita usar seu logo deformado em peças de comunicação?!

Eu trabalhei na Coca-Cola décadas atrás e posso afirmar: isso seria uma heresia inimaginável na minha época.

A logomarca icônica era intocável! Sua cor deveria ser fiel ao pantone Coca-Cola. Impensável usar a logomarca seccionada – muito menos deformada, amassada...
Pois é... Novos tempos pedem ousadia. E o júri acertou em cheio ao premiar a iniciativa! Vejamos mais um exemplo premiado de criatividade para o bem. Imagine uma criança submetida ao estressante exame de ressonância magnética.

Se você já se submeteu a esse tipo de exame, sabe o que estou falando. Não bastando a sensação claustrofóbica de entrar naquele tubo metálico frio, os sons que a máquina emite são assustadores.

Pensando em suavizar essa experiência traumática, a Siemens teve uma ideia genial: criar estórias em áudio fazendo com que os sons da máquina coincidissem com aqueles coerentes com a história contada em áudio.

As crianças usam fones de ouvido e curtem uma agradável estória, enquanto fazem o exame. Esta iniciativa ganhou Grand Prix na categoria Pharma.

E o que dizer da iniciativa da produtora de cimento Sol Clement, do Peru, que criou um “alfabeto” tátil, usado em placas para calçadas, de tal forma que pessoas com deficiência visual podem identificar, pelo tato de suas bengalas, se estão perante um restaurante, hospital, supermercado etc...

Uma ideia vencedora de Grand Prix em Design. São ideias pensadas para sanar dores e melhorar a experiência de usuários. São ideias carregadas de criatividade, mas também de ativismo.

Não um ativismo de protesto, mas aquele propositivo, de ação efetiva em benefício de uma classe ou de um grupo fragilizado de pessoas. Sem falar naqueles focados em sustentabilidade, como o da Coca-Cola.

Essas iniciativas exuberantes de criativismo nos enchem de esperança por um mundo melhor. Um mundo em que marcas pensam, sim, na sua competitividade e perenidade, mas se ocupam também de melhorar a qualidade de vida de pessoas e tornar nosso planeta mais sustentável.

Ficamos, aqui, de olho em outras iniciativas que ainda virão e receberão o devido reconhecimento de jurados conscientes. Quem sabe a sua iniciativa não será a próxima premiada...

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br