Em tempos em que se valorizam as atitudes inclusivas e, por outro lado, são execrados aqueles sem sensibilidade, que fazem uso de uma linguagem com conotação de preconceito e discriminação contra mulheres, negros, LGBTQIA+, PCDs e outros grupos minoritários, todo cuidado é pouco.

Às vezes o uso de uma expressão inadequada pode causar um problemão, inclusive com implicações legais.

Há casos carregados de preconceito mesmo, mas há outros em que, mesmo sem má-fé, o uso de expressões inadequadas se dá por desconhecimento ou por refletir um comportamento historicamente admitido pela sociedade.

Há dois materiais de referência que podem ser acessados gratuitamente e todo profissional de comunicação deveria consultar.

Refiro-me ao Google All In, conteúdo disponibilizado pelo Google e o Glossário Com a palavra certa, desenvolvido pelo escritório de advocacia LBCA:

O conteúdo do Google All In é bastante completo, mas tem a desvantagem de ser em inglês e refletir a cultura americana.

Já o Com a palavra certa, da LBCA, tem expressões bem brasileiras e é um bom guia para uma comunicação assertiva, sem vieses inadequados.

O Google All In tem os seguintes grupos contemplados: Asiáticos; Etarismo; Indígenas; Latinos; LGBTQIA+; Mulheres; Pessoas acima do peso; Pessoas negras; e PCDs. O Com a palavra certa traz glossário com palavras e expressões Machistas; Racistas; Relacionadas ao universo LGBTQIA+; e Relacionadas a PCDs.

Destaco algumas expressões presentes no glossário desenvolvido pela LBCA. Expressões machistas: 1- Mal-amada: Expressão que deprecia a mulher, vinculando seu desempenho à falta de afeto, presença e aprovação de um homem.
Dessa forma, reduz a personalidade da mulher à questão emocional.

2- Isso é coisa de homem: Essa expressão também é misógina, pois traz a ideia de que determinadas tarefas/comportamentos apenas são corretos ou adequados para os homens. A mulher seria menos feminina ao agir/fazer determinadas coisas.

No entanto, isso não existe. Não é o gênero que determina a vontade, a capacidade de uma pessoa fazer qualquer coisa.

Expressões racistas: 1- Mercado negro, humor negro, lista negra, magia negra, ovelha negra, passado negro, bandeira preta: todos esses termos não devem ser usados, colocam o negro/preto de forma pejorativa, reforçam a ideia de que negro é desfavorável, fazendo uma associação de desvalia entre o negro e o que é escuso, ilegal, errático, imperfeito.

No caso de precisar dizer que um estado ou município entrou em fase crítica no controle do novo coronavírus, não use “bandeira preta”, mas fase de maior grau de risco, fase gravíssima ou fase roxa. Utilize: mercado paralelo, humor ácido, pessoas fora da curva, passado obscuro.

Expressões relacionadas ao universo LGBTQIA+: 1- Homossexualismo e Transexualismo: o sufixo “ismo” (terminologia referente à “doença”) foi substituído por “dade” (que remete a “modo de ser”).

2- Opção sexual: Não se faz mais uso desse termo. Utilize: orientação sexual. Expressões relacionadas a PCDs (Pessoas com deficiência): 1- Defeituoso físico: Defeituoso, aleijado e inválido são palavras muito antigas e eram utilizadas com frequência até o fim da década de 1970.

O termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex., o deficiente físico), está caindo em desuso. Utilize: pessoa com deficiência física. Estas são apenas algumas expressões que selecionei aleatoriamente para exemplificar.

Recomendo fortemente que acesse os guias referidos e os mantenha à mão para evitar o uso de expressões inadequadas nas suas peças de comunicação.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br