Nos últimos anos, temos assistido a um retrocesso preocupante nas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), especialmente nos Estados Unidos.
Desde a ascensão de discursos políticos alinhados ao que se convencionou chamar de “anti-woke”, observamos o desmonte de importantes conquistas sociais, como a reversão de ações afirmativas e cotas raciais em universidades norte-americanas.
Mas o que inicialmente parecia um movimento restrito ao campo político e acadêmico, passou a influenciar também o mundo corporativo. Diversas empresas surfam essa nova onda conservadora, começando a suavizar — ou mesmo abandonar — suas políticas de diversidade e inclusão.
Em nome de uma suposta “neutralidade ideológica”, setores empresariais passaram a recuar de compromissos firmados nos últimos anos com grupos historicamente sub-representados.
Trata-se de um erro estratégico grave, que ignora não apenas o valor ético dessas políticas, mas sobretudo o seu potencial de impactar positivamente os resultados dos negócios.
Diversidade não é apenas um ato de responsabilidade social. É uma vantagem competitiva. Ao longo da minha trajetória como consultor em ESG, tenho recomendado sistematicamente às empresas que busquem compor os seus times com um perfil que reflita a diversidade brasileira — racial, de gênero, geracional, territorial e cultural.
Essa escolha não é movida por militância ideológica ou caridade corporativa. Trata-se, antes de tudo, de uma estratégia de performance e empatia empresarial.
Uma equipe diversa representa melhor os múltiplos perfis de consumidores, fornecedores, comunidades e parceiros com os quais a empresa se relaciona.
Espelhar a sociedade em sua complexidade e pluralidade torna a organização mais sensível, mais inovadora e mais preparada para lidar com os desafios de um mercado em constante transformação.
Empresas mais diversas ouvem mais perspectivas, antecipam riscos, propõem soluções mais criativas e comunicam-se de forma mais autêntica. Diversos estudos reforçam esse argumento.
Um relatório da McKinsey & Company (‘Diversity wins: How inclusion matters’, 2020) demonstrou que empresas com maior diversidade étnico-racial têm 36% mais chances de superar seus concorrentes em rentabilidade.
No quesito diversidade de gênero, o impacto também é significativo.
Ou seja: empresas que apostam em inclusão não apenas fazem o certo — elas fazem melhor.
Infelizmente, essa lógica ainda é pouco compreendida.
A diversidade é muitas vezes tratada como um “projeto social” paralelo, alocado em departamentos de RH ou responsabilidade social, sem conexão com os objetivos centrais da companhia.
Mas a verdade é que DE&I deve ser um tema de estratégia corporativa, com o mesmo nível de prioridade de indicadores financeiros ou metas de sustentabilidade.
O atual movimento de retrocesso pode até encontrar eco em governos e grupos políticos que enxergam a diversidade como ameaça, e não como ativo.
Mas as lideranças empresariais que pensam a longo prazo sabem que ignorar a realidade social — ainda marcada por desigualdades estruturais — é fechar os olhos para oportunidades de conexão com um mercado consumidor em mutação, com talentos diversos que desejam pertencimento, e com investidores cada vez mais atentos aos critérios ESG.
É preciso, portanto, reafirmar com convicção: a diversidade não é um luxo ideológico, mas uma alavanca de eficiência, inovação e crescimento sustentável.
Empresas que realmente querem prosperar neste século 21 não podem se dar ao luxo de excluir — seja por conveniência política, seja por cegueira estratégica. Diversidade faz bem! Para a empresa e para a sociedade.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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