Quem vive do próprio salário, portanto do próprio esforço, percebeu que as tais agendas identitárias ocasionam invariavelmente aumento de impostos para a iniciativa privada, que, pagando mais impostos, não lhe sobra dinheiro para mais investimentos em infraestrutura, contratações e aumento de salários. Por isso, no final das contas, pautas identitárias prejudicam quem vive do seu trabalho.
A população americana soube fazer esse link ao sentir no bolso o aumento de preços de produtos de primeira necessidade, além do preço dos aluguéis que também subiram.
O atendimento de qualquer governo aos diversos grupos minoritários que formam a base dessas pautas identitárias é feito, obviamente, com dinheiro. É ele que move o mundo. Mas o problema é que o Estado não produz recurso, seu papel é arrecadatório usurpando os recursos de quem verdadeiramente os produz.
Milionários e bilionários americanos e também brasileiros defendem abertamente essas pautas e investem em ONGs com essas causas. É a forma de se mostrarem preocupados com a humanidade, ou mais especificamente, de mostrarem que são boas pessoas.
Estão apenas jogando para a plateia, como se diz. Caso sentissem no bolso o aumento de preço do combustível, do arroz ou do azeite, não mais alimentariam essa roda insana de gastos e mais gastos para se atender a tudo e a todos.
O Estado gastador é conveniente ao ego da minoria endinheirada aqui ou nos EUA. Um governo que ouse mostrar à sociedade o quão perverso é - para o próprio trabalhador - aumentar impostos para custear todas essas pautas, deixaria esses afortunados em situação incômoda, já que não teriam mais seu álibi de cidadãos exemplares que dizem ser por fomentarem a indústria das ONGs.
A outra razão bem simples, a meu ver, da vitória de Donald Trump é o estrago que a China vem fazendo na economia do Ocidente debaixo do nariz de nossos governantes.
O grande mercado consumidor em que a China se tornou nas últimas duas décadas atraiu as indústrias ocidentais a ali se instalarem em busca desses consumidores e dos custos de produção inferiores em relação aos seus países de origem.
Empresas existem para lucrar e aí estaria a explicação simplória de dez em cada dez CEOs que decidiram migrar suas fábricas para a China. Na verdade estavam preocupados com seus polpudos bônus notoriamente pagos a cargos executivos de empresas de grande porte.
Empresas comandadas pelos próprios donos, e não por fundos de investimento, foram bem mais cautelosas ao apelo chinês dos últimos 20 anos. Muitos empresários até se estabeleceram na China, mas pouquíssimos fizeram do país asiático seu principal foco. Sempre houve desconfiança deste país de economia capitalista e governo comunista. O famigerado Capitalismo de Estado, outrora defendido pela nossa ex-presidente Dilma Roussef.
Mas as empresas multinacionais, que por característica quase comum a todas, não são mais empresas familiares, mas sim sociedades anônimas, são comandadas por CEOs que não tem a mesma paixão pelo negócio que os seus fundadores tinham.
Para estes CEOs a ida à China valeu muito a pena. Foram anos e anos de ótimas vendas que resultaram em grandes salários e bonificações a todo o vapor.
Porém, agora a conta chegou. Para as empresas. A China, ao longo desses anos todos de joint venture em seu país com as multinacionais que ali se instalaram, aprendeu o know-how, pegou o jeito de se produzir com qualidade e agilidade. Até que era chegada a hora de montar suas próprias indústrias para concorrer de igual para igual com os produtos ocidentais.
Com uma grande diferença. Os subsídios do governo comunista, que muitas vezes é sócio das grandes empresas chinesas, garantem aos seus produtos preços bem menores no mercado doméstico do que seus concorrentes estrangeiros.
Não à toa a Volkswagen, outrora maior vendedora de automóveis aos chineses com o nosso antigo sedan Santana, está penando em 2024 para vender naquele país. É que marcas chinesas como BYD e GWM, já bem conhecidas aqui no Brasil, fizeram a lição de casa e hoje possuem veículos tão bons quanto a VW com a vantagem do preço menor.
Em viagem recente àquele país, a editora-chefe do propmark, Kelly Dores, relatou ter se impressionado com o silêncio do trânsito das cidades de Pequim e Shanghai, por exemplo, em razão da quantidade de carros elétricos, os quais não emitem ruído.
Só que não são veículos elétricos da VW ou das demais montadoras tradicionais. São na sua maioria BYD e GWM e um pouco de Tesla. Como dito, os chineses aprenderam trabalhando dentro das fábricas de empresas ocidentais que ali se instalaram e hoje produzem com qualidade e com o diferencial do preço mais baixo.
As multinacionais cujos CEOs se refastelaram no mercado chinês estão agora de cabelos em pé sem saber o que fazer com o recuo dos resultados de vendas das suas empresas na China. E partiram para o óbvio: fechamento de fábricas no Ocidente. Tudo porque apostaram demais na China por estarem de olho nas vendas a curto prazo.
Mais uma vez quem sofre é o trabalhador dos países do Ocidente que perderão postos de trabalho com o fechamento de fábricas, como a própria VW anunciou que vai fazer na Alemanha.
O protecionismo defendido por Trump é para proteger o emprego do americano. Que os demais países ocidentais sigam o mesmo exemplo.
Menos impostos e mais empregos dentro de nossas fronteiras. Foi pensando assim que a maioria do eleitorado americano elegeu Donald Trump e não Kamala Harris.
Tiago Ferrentini é diretor-executivo do propmark