As duplas de sucesso na comunicação não se resumem apenas à grande invenção da Madison Avenue: redator e diretor de arte. Apesar dos vários exemplos de agências bem-sucedidas com o trabalho primoroso das duplas como Petit & Olivetto ou mesmo duplas de negócios e criação como Madeira e Serpa, o método de parceria vai além.
Na música, com Lennon & McCartney ou Tom & Vinicius, as duplas sempre se completaram na solidão da criação e das tomadas de decisão. O grande problema, às vezes, não é escolher o caminho. É precisar renunciar a todos os outros. O peso das decisões, quando dividido, permite mais velocidade e, por que não, prazer na jornada. A matemática em gestão e business é diferente. Ao dividir você multiplica. É aquela equação em que 1 + 1 é maior que 2.
Em dupla, a caminhada fica mais leve. Com uma dupla talentosa, a cognição é mais certeira. Mas em alguns segmentos da comunicação a solidão ainda é grande. Os eventos de liderança empresarial fazem muito sucesso hoje em dia. Participei de um deles recentemente e percebi como a solidão nos altos níveis pode ser um problema que está sendo subestimado hoje em dia.
Dentro das matrioscas dos cargos de liderança não sobra espaço para interagir, relaxar um pouco ou expressar fraquezas. Não precisamos ser campeões em tudo nem chegar aos limites da estafa para mudar o comportamento.
O ambiente dos negócios pode estar ao lado das necessidades humanas de afeto e suas fragilidades. Não há nada de errado em buscar a parte que falta para ter sucesso. A solidão é fera, a solidão devora. Com quem você vai comentar os problemas reais que você tem? E melhor, com quem você vai comentar os problemas imaginários que são descartados com uma simples troca de ideias? Os demônios pessoais não são bons interlocutores. A campanha que não funcionou, a estratégia errada ou a flopada de audiência são assuntos tabus? Com quem você vai dividir as angústias que te acometem às 3h da manhã?
A gente não se toca que a palavra tecnologia termina com IA, mas a palavra EmpatIA também. A solução para a solidão do topo pode estar na diversidade de perfis de interação. E o sucesso idem. Ninguém é mais especialista em entender gente do que publicitário.
Marketing e criação já produziram grandes duplas. A maior delas, sem dúvida, foi Steve Jobs e Lee Clow. Jobs, um gênio que Walter Isaacson em sua biografia dispensou de qualquer apresentação posterior. Lee Clow, um publicitário, surfista, mezo hippie, genial também, mas com um talento espetacular: conhecer gente. Merecia também uma biografia/anuário.
Jobs gostava de caminhar com ele enquanto trocava ideias. Caminhadas longas em diálogos idem. Procurando saídas, procurando uma interpretação de dados com o pé na realidade. Nos dias de hoje seria visto como uma fraqueza?
O melhor amigo de um ótimo CEO ou CMO precisa ser alguém que entenda do ser humano e ajude a organizar os dados e deletar aqueles que são distrações daquilo que é relevante. Alguns publicitários, além do conhecimento extremo das emoções e de gente, são psicanalistas de marcas. É como se a audiência toda se acomodasse no divã e abrisse o que estão sentindo.
A solidão do c-level está além dos clubes de golfe e dos encontros de inovação e mais do que nunca é opcional. Veja por exemplo duplas de sucesso como Matias & Nizan, Machado & Anselmo. Se o importante não é a chegada, mas o caminho, nada melhor do que dividir a estrada com alguém que traga valor ao seu tempo.
Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul