Quando Siba, talentoso cantor, compositor e músico pernambucano, escreveu sua Bagaceira, nem de longe pensou que seria uma grande ironia, ainda que por vias tortas. Na música, ele propaga “Pode acabar-se o mundo, vou brincar meu Carnaval”. É bem verdade que o mundo não acabou, mas a primeira onda da Covid-19, em 2020, e a chegada da variante Ômicron (2021/22) simplesmente dizimaram qualquer perspectiva de folia. Nada de Carnaval. E pelo segundo ano consecutivo. Não há nem o que questionar. Decisão superacertada das autoridades.
Só que, neste segundo ano, estávamos todos mais otimistas e ansiosos, falando agora do ponto de vista do mercado publicitário. Para se ter uma ideia, em números, peguemos os dados oficiais, divulgados pelo Ministério do Turismo, falando das perspectivas de receitas a serem geradas no período momesco, por assim dizer. Isso lá atrás, em 2020. A movimentação esperada era cerca de R$ 8 bilhões no setor turístico. O valor representava aumento de R$ 80 milhões em relação a 2019, e o maior desde 2015, quando a festa movimentou R$ 9,07 bilhões.
E 2022 tinha tudo pra bombar!
Em novembro do ano passado, O Globo e a Veja Rio alardeavam quase R$ 40 milhões de investimentos privados previstos para serem investidos na Cidade Maravilhosa, apenas para o Carnaval de rua. Havia uma expectativa de 620 desfiles e mais de 500 agremiações. Na mesma linha, em São Paulo, também em novembro último, a imprensa anunciava investimentos de mais de R$ 23 milhões no Carnaval de rua, que já registrava mais de 860 inscrições de blocos para desfiles. Um valor um pouco maior que o registrado em 2020, quando a cidade havia recebido R$ 21,9 milhões de patrocínio, contra R$ 16,1 milhões de 2019. Recife (PE) projetava, em 2020, investimentos da ordem de R$ 25 milhões, de acordo com dados da prefeitura.
Como publicitária, enxergo o Carnaval como um mar de oportunidades criativas. Permite uma infinidade de possibilidades de interação com o público. Ações sempre descontraídas, extrovertidas, leves, aproximando ainda mais o consumidor final de suas marcas preferidas. E não é só o setor de bebidas que festeja. O Carnaval é democrático. Tem espaço para todo mundo.
Mas é bom ressaltar que nem as agências nem seus clientes estão focando exclusivamente no consumo. Um estudo da empresa de pesquisa MindMiners, divulgado antes do Carnaval de 2020, mostrava que os temas considerados pelo público como mais importantes eram: álcool e direção (59%), assédio sexual (55%), transmissão de DST’s (49%) e poluição das cidades e produção excessiva de lixo (49%).
Dá para imaginar o que se poderia criar com um briefing desse?
Já que, como boa pernambucana, vou ter de esperar mais um ano para me meter na brincadeira, como dizia o poeta Luis Bandeira, vou ficar na torcida pelo avanço consistente da vacinação em todas as faixas etárias para que tenhamos segurança para fazer o melhor Carnaval de todos os tempos.
E, aí sim, Siba, “Pode acabar-se o mundo, vou brincar meu Carnaval!”
Renata Gusmão é publicitária e sócia na Blackninja (associada ao Sinapro/PE)