Um dia você começa a perceber que as pessoas olham pra você de uma forma diferente. E, intrigado, você se olha, no espelho, e percebe que está mesmo diferente. Cabelo mais ralo, rugas salientes, marcas no rosto, mudanças na expressão, o fator idade...
Nunca antes pensou nisso, mas agora, começa a pensar. E sente que muitas pessoas, sem qualquer manifestação explícita, olham pra você não mais com as mesmas e queridas mensagens no olhar. Continuam admirando, respeitando, e gostando de você, mas, sem perceber, deixam mais que claro que não consideram mais você para determinadas funções, práticas, serviços, missões. E aí você descobre a palavra Etarismo. Vai ao Google, e está lá, “é o nome que se dá ao preconceito contra pessoas com base na sua idade”.
De certa forma, o mesmo que aconteceu com você quando um dia olhou para seu pai, ou um tio, ou um amigo, e começou a achar que estavam velhos. Ser velho lá atrás começava no final dos 50, início dos 70. Hoje começa no início dos 70, e escancara a partir dos 80, por mais que você se sinta jovem, a vontade, saltitante, consciente, mesmo com alguns tombos e escorregões, vez por outra.
E aí vem a Vejinha Rio e lembra a todos nós, que mesmo depois dos 80, ainda existe muita vida pela frente, claro, se o tal do médico alemão não começou a te sondar, o tal do Alz... Alzheimer...
Sob o título ‘O grande espetáculo’, e assinada pela Kamille Viola, escritora, jornalista e pesquisadora musical, a edição deste mês de Vejinha Rio, escancara, “Uma série de peças em cartaz na cidade trata do envelhecimento sob um novo olhar e ainda põe em cena veteranos cuja atuação já vale o ingresso...”.
Kamille abre sua matéria repassando dados com os quais estamos nos acostumando: o envelhecimento da população brasileira. Em 10 anos, o contingente dos 60 e mais, saltou de 11,3% da população para 14,7%, e em números, mais 9 milhões de brasileiros adicionados ao grupo. Mas vamos à galeria de “queridos velhos” que encantam a noite e os teatros do Rio.
Desde uma Lilia Cabral, 66, na peça ‘A lista’, com uma visão absolutamente nova e repaginada e feliz da velhice. Com direito a novos amores. Já Suely Franco, 84, divide outro palco da cidade com Deborah Evelyn e Fernanda Nobre, em ‘Três mulheres altas’.
Mais adiante, Othon Bastos, 91 anos, em ‘Não me entrego não’, monólogo, no Teatro Vanucci. Viajando pelo Brasil, Fernanda Montenegro, 94 anos, em ‘Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir’. Suzana Vieira, 81, retornando aos palcos em setembro com monólogos sobre a vida e a solidão...
É isso, amigos. Mais que na hora de reconsiderarmos nosso entendimento, compreensão e relação ao que até outro dia ainda tratávamos como velhice... No mercado corporativo, então, é simplesmente patético como se dispensa ouro puro da melhor qualidade na melhor fase de suas vidas, a da sabedoria.
Simplesmente um absurdo, pessoas com a competência, experiência e conhecimento de um Roberto Setubal, Itaú, ou como aconteceu com o Luiz Carlos Trabuco, no Bradesco, dependerem da alteração nos estatutos para permanecerem na ativa de suas organizações. Emprestando contribuições únicas e inestimáveis, exatamente por se preservarem lúcidos e saudáveis. No melhor de seus desempenhos e performances.
Já terminara de escrever este comentário quando recebo o Estadão de segunda-feira, 22 de julho, com a entrevista do novo octogenário, Ronnie Von, e onde conta a lição que recebeu do pai dele.
“Meu pai, com 87, 88 anos, resolveu podar uma primavera. Subiu em uma escada, caiu e se arrebentou todo. No caminho do hospital, eu dando lição de moral nele e ele me disse, “Meu filho, quero que você aprenda uma frase que vai te servir como um mantra: a mente humana nunca vai passar dos 25 anos”. Na festa que fiz 80 anos para ele, pensei, “Meu pai, 80 anos, ficou velhinho”. Como assim? Estou fazendo 80 anos e longe de me sentir um velhinho...”.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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