Desde que decidi me enveredar pelos caminhos dos conceitos ESG, tenho procurado evitar a percepção de que esta sigla seria mais um modismo na administração de empresas.
De fato, embora não seja tão novo – o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) surgiu em 2004, no relatório da ONU intitulado ‘Who cares wins’ (‘Quem se importa, vence’, em tradução livre) –, seus critérios começaram a ganhar tração somente em 2015, com o Acordo de Paris, quando foram estabelecidos também os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), e, mais recentemente, quando o universo financeiro passou a considerar relatórios não financeiros como importantes para se atribuir valor às empresas.
Foi quando Larry Fink, o poderoso CEO do Black Rock, fundo que administra mais de 10 trilhões de dólares, comunicou bombasticamente que passaria a analisar as empresas também pela adesão a processos administrativos que levem em conta os aspectos socioambientais e uma governança ética e transparente.
Aí sim, sob risco de ficarem de fora das carteiras dos grandes fundos, as empresas passaram a considerar ESG como um tema relevante e urgente.
De lá para cá, o efeito dominó vem impactando toda a cadeia, já que, não basta a empresa adotar os critérios internamente, se permanece exposta aos riscos de condutas inapropriadas de seus fornecedores.
Mesmo depois de o próprio Larry Fink ter suavizado sua cobrança ESG, sua aplicação passou a ser cada vez mais difundida e adotada por uma razão simples: faz bem às empresas.
E este é o ponto que merece ênfase: estar em sintonia com os princípios de respeito ambiental, sensibilidade social e conduta ética gera valor às empresas e deveria ser default.
Estudo recente da S&P, nos EUA, demonstra que, dentre as empresas listadas na Bolsa americana, as com maior maturidade ESG são as que apresentam melhor performance. Com isso, a aplicação dos critérios ESG na administração de empresas vai deixando de ser um diferencial competitivo para se tornar risco de negócios. As empresas mais conscientes, em processo mais robusto de ESG, exigem dos seus parceiros e fornecedores a mesma consistência, sob risco de ficar de fora da sua cadeia de suprimentos.
Face a esta nova realidade, a busca das empresas por um alinhamento aos princípios éticos e de respeito socioambiental vem se dando como necessária – e não mais desejável.
ESG precisa entrar nos currículos das universidades de administração de empresas como algo natural, a ser incorporado aos processos normais de gestão. Os recentes fenômenos climáticos assustadores no Brasil e no mundo – alagamento do sul do país, seca e incêndios em SP, Centro-Oeste e Norte do país – geram um senso de urgência.
Consumidores mais conscientes pressionam as empresas para a adoção de processos produtivos e de logística com menor pegada de CO2 e de menor uso de materiais poluidores, como o plástico. Essa reação em cadeia vai fazendo com que todos sejam implicados.
Há ainda a oportunidade de novos negócios, decorrentes da geração de energia limpa, da gestão de resíduos, da demanda por materiais alternativos, menos agressivos ao meio ambiente.
Há uma cauda longa na esteira da nova economia verde, que mobiliza novos players e adaptações nas empresas mais tradicionais.
Na área da comunicação, é preciso observar as formas mais apropriadas de se lidar com a diversidade e se dirigir de maneira respeitosa aos minorizados.
Para alguns, pode parecer que ESG vem se tornando menos importante, à medida em que deixa de ser tratado como algo inovador.
Na verdade, devemos ver este momento com bons olhos, celebrando o respeito socioambiental e os princípios éticos como o novo normal na administração das empresas. A aplicação ESG é estratégica para as empresas e fundamental para um mundo melhor.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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