Na semana passada, tive a oportunidade de visitar as instalações do The Town, em Interlagos, dias antes do início do megafestival. Minha anfitriã foi a FacilityDoc, responsável pelo licenciamento, segurança, saúde e bem-estar do evento.

A empresa já presta, com competência, o mesmo tipo de serviço ao Rock in Rio e é um player importante no processo de aplicação de princípios ESG nesses eventos.

E foi com esse olhar que estive lá: para constatar o nível de atenção às questões ambientais, sociais e de governança adotado em atividades desse porte. Além, logicamente, de ver, in-loco, a grandiosidade e complexidade de montagem do megaevento.

A poucos dias do festival, o ritmo era frenético, com centenas de trabalhadores finalizando estruturas, não só relacionadas diretamente às atrações, mas também das marcas patrocinadoras, com grandes estruturas de ativação.

Atenção redobrada da minha anfitriã para garantir que todos os trabalhadores estejam devidamente orientados e aparelhados com equipamentos de proteção (EPIs), para evitar acidentes.

Eu, inclusive, fui obrigado a usar capacete de proteção durante toda a visita. São cuidados que não podem ser negligenciados em eventos que envolvem grandes estruturas, como o The Town. É preciso ainda garantir o bem-estar dos trabalhadores, observando rigorosamente horários de trabalho, de alimentação e descanso.

Ocorrências recentes, em outro megaevento, acusado de contar com fornecedores que impunham regime de trabalho análogo à escravidão, geram um ambiente de vigilância muito mais apurada para evitar deslizes.

Mas o festival faz questão de adotar e estimular ações em consonância com as melhores práticas de ESG, de forma holística.

O palco principal, por exemplo, o Skyline, é uma grande estrutura de aço, construída com a garantia da Gerdau de que o material seja de origem de reciclagem e 100% reciclável após o evento, com zero resíduo.

A circulação de carros no entorno de Interlagos será restrita apenas aos veículos a serviço da organização, estimulando o público a usar trem e metrô, que funcionarão 24 horas ao longo dos dias do evento.

Estruturas de captação de energia solar, montados pela Neoenergia, já estão instalados no espaço para uso no evento.

A Braskem, em parceria com os patrocinadores Coca-Cola e Heineken, fornecerá copos plásticos reutilizáveis, premiando o público com brindes, quando comprovam o uso continuado dos copos na compra de bebidas.

O The Town tem também uma estrutura à parte, só para garantir o acesso e uma boa experiência por parte de PCDs. Extrapolando a atuação direta no festival, os organizadores, juntamente com as patrocinadoras Volkswagen e Gerdau, reformarão casas da comunidade Haiti, de São Paulo.

A organização vai também destacar as marcas com ações sustentáveis durante o evento, com a premiação Atitude Sustentável. Apesar de todo esse cuidado com ações de benefício socioambiental, há atividades, porém, que ainda geram grande impacto, sem alternativas mais amigáveis com o meio ambiente.

É o caso dos famigerados geradores a diesel, que continuam com seu funcionamento ruidoso e poluente. Infelizmente, ainda não há substitutos à altura do diesel para esses geradores. A solução é compensar o CO2 gerado por esses equipamentos.

O evento se propõe neutro em CO2. Mas o mais importante de tudo é a atitude e a disposição genuínas de buscar progressivamente cumprir uma cartilha de boas práticas ESG.

E é facilmente identificável essa preocupação por parte dos organizadores, seus fornecedores, parceiros e patrocinadores.

Alguns poderão imaginar que tudo isso é possível pela grandiosidade do evento e do montante de recursos amealhado. Na verdade, o que importa é a atitude e o querer fazer.

Eventos menores têm desafios menores, permitindo a adoção de uma agenda ESG adequada a seu porte. O importante é colocar ESG na pauta!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br