Tem acontecido frequentemente: quando falo de ESG a reação de meus interlocutores é um misto de “já ouvi falar” ou “essas coisas de sustentabilidade”. Embora o envolvimento de gestores e das pessoas em geral com o tema seja crescente, há ainda muita mistificação ou entendimento equivocado dos princípios e critérios que gravitam em torno dessas 3 letras.

Então, vamos lá: ESG não é algo novo, não é um desses modismos para vender mais livro ou consultoria. O acrônimo vem das iniciais de três palavras em inglês: Environmental (Ambiental), Social, Governance.

Foi a forma com que um grupo internacional de executivos financeiros encontrou, estimulado por Kofi Anan, quando secretário-geral da ONU, no fim de 2003, para resumir a atitude necessária para tornar o mundo empresarial mais respeitoso, inclusivo e justo.

De fato, uma atitude era necessária para evitar crescer a desigualdade e as ameaças de deterioração do meio ambiente. Não era aceitável conviver com a incrível concentração de riqueza e o crescimento da fome no mundo, de um lado, e a degradação ambiental, do outro, sem falar na intolerância, xenofobia e preconceito ainda presentes no mundo.

Algo precisava ser feito. E o documento gerado por esse grupo de executivos, intitulado Who cares wins (Quem cuida, vence), deu os caminhos, resumidos nas 3 letras mágicas: ESG. O estudo estimula empresários a pensar não só no seu lucro, mas também nas pessoas e no planeta.

E enfatiza que essa atitude não prejudica o resultado da empresa. Ao contrário, diversos estudos demonstram que as empresas mais preocupadas com os stakeholders (e não só os shareholders – acionistas) e com o planeta lucram mais.

Comprovação cabal de que Quem cuida, vence. Antes desse estudo, já havia acontecido outros movimentos, como os conceitos de CSR (Corporate Social Responsability – Responsabilidade Social Corporativa), Sustentabilidade Ambiental ou Capitalismo Consciente, mas o mundo empresarial, salvo honrosas exceções, continuava resistente e insensível.

A criação do acrônimo ESG, num primeiro momento, não foi suficiente para provocar uma mobilização consistente. Somente em 2017, quando o poderoso CEO do Black Rock, Larry Fink, num dos seus comunicados ao mercado, foi definitivo, dizendo de que só aceitaria no seu portfólio empresas em sintonia com os princípios ESG, algo aconteceu.

A declaração caiu como uma bomba no mercado. Ninguém queria ficar de fora da carteira de mais de 10 trilhões de dólares do fundo. E aí sim, com dor no bolso, as empresas começaram a se mobilizar.

De lá para cá, o movimento, felizmente, não para de crescer, gerando um tsunami do bem no mercado. Mas muitas empresas ainda estão inseguras em começar a pensar estrategicamente em ESG.

E aí vem minha constatação: muitas já praticam os princípios ESG e nem sabem. Estou realizando um diagnóstico em duas empresas e elas  estão se surpreendendo com as iniciativas que estavam “escondidas” num departamento ou outro.

Na área ambiental, se sua empresa compra energia no Mercado Livre de Energia, de fontes renováveis, já é uma atitude. Se separa o lixo e procura dar uma destinação sustentável, ótimo. Procura não usar embalagens plásticas descartáveis? Mais um ponto positivo.

Na área social, se existe uma política de inclusão e o foco em diminuir desigualdades, ótimo! Se há o compromisso em evitar qualquer atitude de preconceito ou intolerância com os diferentes, maravilha! Se há uma governança ética, justa e transparente, o caminho está traçado.

Às vezes, o que está faltando é juntar todas essas iniciativas e coordená-las eficientemente numa direção estratégica para estar em compliance com os critérios ESG. Potencializar, estabelecer metas e gerar processos transversais sob o guarda-chuva ESG é o caminho.

Viu? Talvez sua empresa já esteja iniciando uma jornada mais sustentável, inclusiva e transparente e nem saiba...

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br