O crescimento do setor de tecnologia é uma das maiores fontes de oportunidades do momento, mas até que ponto essa fonte é igualitária entre os gêneros? Atuando há mais de 15 anos em instituições que usam a tecnologia como aliada, percebi que a presença feminina em cargos de liderança é escassa, algo que ressalta a urgente necessidade de uma mudança na cultura corporativa. E, mais do que isso, vejo as instituições falando sobre o tema, criando ações de marketing e conscientização, mas fazendo pouco para mudar a realidade dentro das próprias empresas, deixando de aplicar políticas de valorização para suas colaboradoras.

Para se ter uma ideia, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) entre 2015 e 2022 mostram um aumento de 60% na participação feminina no setor de tecnologia, o que, apesar de muito significativo, ainda deixa as mulheres representando apenas 12,3% das posições, enquanto os homens ocupam 83,3% dos cargos. Já o levantamento do 'Woman in technology' mostra que na América Latina a presença feminina em posições de liderança no setor é inferior a 30%.

O panorama atual reflete uma disparidade notável e desigualdade de oportunidades para as mulheres que aspiram a carreiras nas áreas de tecnologia. É necessário promover e respaldar suas escolhas profissionais, tornando-as parte ativa da solução, não apenas com o incentivo e o apoio direcionado às mulheres interessadas em tecnologia, mas também o desafio de normas sociais que historicamente limitaram suas escolhas. Essa abordagem é essencial para formar um ambiente mais diversificado e inovador, onde a multiplicidade de perspectivas e talentos femininos possa contribuir de maneira significativa.

Frequentemente, as mulheres se deparam com barreiras culturais e estereótipos que as desencorajam, alimentando percepções ultrapassadas, como a crença de que programação e engenharia, por exemplo, são setores exclusivamente masculinos. É crucial desmantelar essa imagem obsoleta, proporcionando desde cedo a compreensão de que independentemente do sexo, as pessoas são plenamente capazes de se destacar.

Para conseguir promover a equidade de gênero, é essencial que as empresas se coloquem à disposição para adoção de políticas e práticas específicas, que realmente vão além do “código de boa vizinhança” exposto nas redes sociais com a aproximação do Dia da Mulher.

Esse propósito da companhia precisa incluir a criação de programas de mentoria e o incentivo a modelos femininos de sucesso, além da implementação de metas claras para aumentar a representação feminina em todos os níveis hierárquicos. Outro ponto crucial é a criação de políticas de inclusão e diversidade, que possam garantir um ambiente de trabalho seguro e inclusivo para todos os profissionais. Isso envolve também as políticas de remuneração igualitária, a promoção de oportunidades de desenvolvimento e progressão na carreira.

Criar ambientes receptivos que incentivem a participação das mulheres em empresas de tecnologia, principalmente em cargos de destaque, é essencial para acompanhar a evolução do mercado. O segmento não deve ser visto como um território exclusivo, mas, sim, um espaço onde todos possam contribuir e desenvolver cada vez mais soluções para o progresso e bem-estar da sociedade como um todo.

Aline Hoeper Maurente é head de negócios, customer success e marketing da Uhuu.com