Consigo desconectar do trabalho me conectando com outras páginas. Um dos livros do momento é a biografia de LeBron, de Jeff Benedict, pela editora Objetiva. Em 500 páginas ele apresenta a origem, o desenvolvimento emocional, ético e esportivo de Lebron James, o que no livro é descrito como ética de trabalho, de um dos maiores atletas de todos os tempos.

O livro esmiuça como essa ética foi forjada, os valores pessoais e princípios de trabalho do atleta LeBron, sem esquecer do lado humano, que inclui ter morado até os 18 anos com a mãe, num conjunto residencial social da cidade de Akron, Ohio, onde pagavam 22 dólares de aluguel subsidiado, mesmo sendo o melhor jogador americano do ensino médio.

Considero LeBron top3 do esporte. E ele, de qualquer maneira, seria um bom esportista e ganharia muito reconhecimento. Porém, sua ética de trabalho o levou a outros níveis.

Seu talento natural, potencial atlético em conjunto com valores muito claros com os quais escolheu caminhar, fizeram-no assinar inúmeros contratos incríveis: aos 18 anos, antes de entrar na NBA, LeBron fechou com a Nike por 100 milhões de dólares. Foi a primeira escolha do Draft de 2003, com apenas 18 anos, e quando tinha 34 anos assinou um outro contrato vitalício com a Nike, por 1 bilhão de dólares. Ele acaba de fazer 39 anos e ainda batendo médias incríveis na temporada 2024 da NBA.

Bela história, e fica claro que ele tinha uma baita vontade de trabalhar. Não obrigação de trabalhar. Mas fazer por uma questão intrínseca. Fazer porque se tem um objetivo em mente, porque se visualiza o que quer e foca em resultados para acontecer. Algo muito íntimo.

Comparo muito o basquete com publicidade, pois a publicidade reconhece, financeiramente e socialmente seus maiores talentos. Em outras proporções, é uma das poucas áreas em que o tratamento e reconhecimento ao talento são prioridade. Fica entre arte e negócios. O que é incrível. Os Lebrons da publicidade podem ser nerds, tímidos, ruins de bola. Só não podem não ter fome.

Instantâneo e bom é Nescau
Talento criativo precisa ainda de 10 mil horas, precisa de estudo e dedicação. Mas o que precisa mesmo é amor ao que se faz. Como LeBron, que treina todos os dias. Talvez não precisasse, mas ele o faz. Inclusive no dia do seu casamento fez treinamentos e compromissos de negócios. É que ali não é um trabalho, é mais.

Foi o passaporte de um garoto de conjunto habitacional para uma nova vida. E não falo apenas em dinheiro.

Tudo. Publicidade também permite isso também. Magicamente, como encestar uma bola de basquete, você sai da Cohab e pode almoçar no Ritz de Paris, por exemplo. Em publicidade você nunca pode se achar maior do que a própria publicidade. Ainda faço folhetos, filmes, lista de slogans, o que precisar para resolver problemas de negócios de nossos clientes. É nos “arremessos depois do treino” que se encontra o verdadeiro criativo que constrói a imagem que você sonhou de você mesmo, lá atrás.

Adoraria dizer aos jovens que só trabalhando meio período e home office você vai aprender o ofício e vai ser um super-star da profissão. Até pode ser que aconteça, mas seria uma exceção. Porém, tenho visto jovens talentos adotando ética de trabalho de alto nível. Chegando cedo. Trabalhando com propósito e foco, sem espaço para distrações. Se entregando no horário de trabalho para sair no horário. O que é sinal de civilidade e profissionalismo.

Algumas dezenas deles estão, inclusive, indo para as melhores agências do mundo todos os anos num movimento de exportação similar a outro setor de exportação do pais, os jogadores de futebol. Ética de trabalho aumenta a empregabilidade e a longevidade. Vide LeBron. Fica claro no livro que ser exigente e buscar excelência tem também seus pontos negativos. Nem todo mundo vai gostar de você, ou vai se sentir à vontade falando com você. Pois é sempre um desafio se expor e entrar em quadra e mostrar o talento. Mas é assim que é o jogo. Recomendo a leitura.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br