O mundo parece respirar um pouco mais aliviado com os recentes sinais de que os Estados Unidos estão suavizando sua postura em relação ao comércio internacional.
Após a ameaça de imposições tarifárias duras e políticas protecionistas que afetaram cadeias globais de valor, o governo norte-americano começa a dar sinais de abertura e reequilíbrio.
Essa possível inflexão, ainda tímida, renova a esperança de um ambiente mais estável e cooperativo entre as grandes economias do planeta. Mas a pergunta que fica é inevitável: essa guinada chegará às questões socioambientais, de diversidade e de governança?
A política comercial não pode ser vista isoladamente. Ela está interligada a valores e compromissos que, nos últimos anos, foram colocados à margem por decisões que contrariaram princípios básicos de justiça climática, inclusão e cooperação global.
Não se pode esquecer que os Estados Unidos, em gestões recentes, romperam com o Acordo de Paris, cortaram investimentos em instituições sociais, atacaram abertamente as universidades públicas e minaram políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) sob o argumento de neutralidade ideológica.
Essas ações deixaram cicatrizes profundas não só na sociedade americana, mas também na imagem internacional do país — historicamente posicionado como líder global em inovação, liberdade e direitos civis.
Agora, com a reaproximação gradual do governo norte-americano de práticas mais conciliatórias no comércio exterior, abre-se uma janela de esperança por uma virada também nas políticas ESG.
O mundo precisa — e espera — mais do que tarifas menores ou acordos bilaterais.
Precisa de compromissos firmes e coerentes com os grandes desafios contemporâneos: a crise climática, a insegurança global e a desigualdade social crescente.
As mudanças climáticas já não são projeções distantes: são realidade concreta, com impactos devastadores em diversas regiões do planeta.
Espera-se dos EUA uma posição clara e colaborativa, não apenas no discurso, mas na ação — com reintegração ativa aos pactos multilaterais, investimentos em tecnologia limpa, e estímulo a modelos de desenvolvimento que levem em conta não apenas o PIB, mas o bem-estar coletivo e a regeneração
ambiental.
No ano em que o Brasil sediará a COP30, fica a expectativa por uma reversão da posição dos EUA e de uma participação expressiva americana em Belém.
No campo social, é urgente que os Estados Unidos retomem o protagonismo na defesa de direitos humanos, igualdade de oportunidades e combate à discriminação.
O retrocesso nas pautas de inclusão de gênero e raça, especialmente nos ambientes acadêmico e corporativo, gerou um clima de tensão e retroalimentou discursos excludentes.
Não se constrói uma economia robusta e sustentável com parte da população sistematicamente deixada para trás. Ou de submissão da academia a valores contrários à sua crença.
Do ponto de vista da governança, a expectativa é por mais transparência, ética pública, respeito às instituições democráticas e compromisso com a cooperação internacional.
O mundo já entendeu que os problemas do século 21 — das pandemias à transição energética — não conhecem fronteiras nacionais. A única saída possível é coletiva.
Diante disso, é natural que o mundo observe com atenção e esperança os próximos passos da potência americana.
Se a mudança de tom nas relações comerciais for acompanhada de uma reconexão genuína com os princípios ESG, estaremos diante de uma virada promissora — não apenas para os Estados Unidos, mas para toda a sociedade global.
É isso que desejamos: que a liderança global seja exercida com responsabilidade, visão de longo prazo e respeito pelos princípios que unem a humanidade. O planeta não tem mais tempo a perder.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br