Em março deste ano, realizei um sonho antigo: visitar uma expo, um dos maiores e mais antigos eventos do mundo. Mas, antes de contar um pouco sobre a experiência por lá, vale uma contextualização do que representa esse evento.

Por mais de 200 anos, as expos têm sido um ponto de encontro e conexão, onde o mundo se une para discutir e buscar soluções para os grandes desafios globais. A primeira edição, realizada em Londres, em 1851, foi idealizada pelo Príncipe Albert, marido da Rainha Victoria (tataravó da Rainha Elizabeth) e contou com a presença de personalidades como Charles Darwin, Karl Marx e Michael Faraday.

Diversas inovações que moldaram nossa sociedade foram apresentadas em uma expo, com destaque para o telefone, a TV, a incubadora, as placas de energia solar e as máquinas de café expresso, entre muitas outras. Grandes ícones, como a Torre Eiffel (Paris) e o Atomium (Bruxelas) foram construídos no âmbito do evento.

Com o tema Conectando mentes, criando o futuro, a edição de Dubai, realizada de outubro de 2021 a março de 2022, se manteve fiel ao seu propósito original. Os números são grandiosos, como tudo que envolve a cidade: 192 países ocuparam os 438 hectares – o equivalente a 30 Cidades do Rock – do centro de exposições para discutir questões ligadas a ESG e como atingir os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU até 2030.

Ao todo, 24 milhões de pessoas visitaram a expo presencialmente, o que representa um número expressivo, considerando-se o cenário da pandemia. E por falar em pandemia, do lado de fora das atrações, a utilização de máscaras era opcional e ficou restrita a uma minoria. Dentro dos estandes, o uso era obrigatório – o que pode indicar uma tendência para eventos.

Um dos destaques foram as experiências digitais pensadas não só para potencializar as físicas, mas para proporcionar uma interessante e completa jornada online. Games, caça ao tesouro, lives interativas, shows, tour virtual com mascotes animados, áudio guia e app com realidade aumentada levaram o evento para muito mais longe. Até uma réplica da expo dentro do Minecraft foi criada para atrair a atenção da criançada: uma maneira lúdica e divertida de inserir a discussão dos desafios mundiais nas mentes e corações da nova geração.

Todo esse conteúdo está disponível gratuitamente no site virtualexpodubai.com e é um legado riquíssimo que a Expo Dubai deixa para o mundo. E não só virtualmente: 80% do que foi construído para sediar o evento está sendo aproveitado e transformado em um centro de inovação, cultura, entretenimento, turismo e negócios, o District 2020 – um ecossistema inteligente e sustentável, que servirá como modelo para o desenvolvimento das cidades do futuro.

As inovações e ideias apresentadas por lá impressionam e confirmam a capacidade incrível do ser humano de usar sua inteligência e imaginação para continuar evoluindo como espécie e se desenvolvendo como sociedade. Por outro lado, ao voltar para casa e para realidade, a sensação que fica é de uma grande desconexão. Entre discurso e prática.

Enquanto vemos diferentes culturas convivendo de forma pacífica e harmônica e com seus estandes recheados de mensagens de paz, amor e união, na prática estamos à beira de uma guerra mundial. Um espaço lindo, desenhado para homenagear as mulheres e suas conquistas, não tinha uma mulher sequer trabalhando. No Catar, onde será realizada a Copa do Mundo deste ano, uma mexicana foi condenada a chibatadas após denunciar uma agressão.

Carros voadores, autônomos, plantações verticais, captação de energia limpa e renovável, contrastam com a triste realidade de que, no Brasil, 71% da população acima de 16 anos não tem acesso à internet todos os dias e, pior ainda, 47% não tem acesso à rede de esgoto. Essas são algumas das contradições que temos de resolver, se realmente quisermos construir um futuro melhor. Fica a esperança inspiradora de que todas as maravilhas que vimos na Expo Dubai não sejam apenas mais uma miragem do deserto.

Márcio Carvalho é CEO da Onze Marketing e Comunicação