No início dos anos 1960 eu morava na Rua São Vicente de Paulo, em São Paulo, cidade de São Paulo, e compartilhava um quarto com meu querido e saudoso irmão, que partiu semanas atrás. E a quem homenageio e agradeço neste momento pelo infinito amor com que sempre me acolheu no correr de nossas vidas. Ele, José Carlos Madia de Souza. Saudades.

Chegávamos da rua, colocávamos o pijama e, num pequeno rádio de cabeceira, ouvíamos todos os dias um programa de fim de noite na rádio Excelsior, com entrevistas. Numa das noites, uma moça que chegava do Rio Grande do Sul, em companhia de sua mãe, e iniciando sua carreira artística. Por coincidência, tinha o mesmo nome de uma querida amiga, Elis Regina, e assim e imediatamente guardei seu nome.

No dia seguinte, como fazia todas as noites, antes de ir para casa batia o ponto no João Sebastião Bar, da Rua Major Sertório, do Paulo Cotrim. Era amigo dos porteiros e garçons e, como era menor, não deixavam eu sentar nas mesas, mas sempre guardavam um lugar para mim no balcão do bar. E só concordavam em deixar eu beber uma dose de absinto com gelo picado por noite.

Abre a porta e entra a Elis Regina da rádio Excelsior do dia anterior, acompanhada pela mãe. Como as mesas estavam cheias, veio sentar-se ao meu lado no bar e começamos a conversar. E, por alguma razão, o assunto convergiu para Nat King Cole, e sua interpretação monumental de Fascination. Anos antes, Nat King Cole mudara-se para Beverly Hills, numa linda casa, e passou a ser hostilizado pelos seus vizinhos envergonhados de morarem ao lado de um negro. Num determinado momento da conversa, somos interrompidos pelo Paulo Cotrim que pede para Elis Regina dar uma canja. E ela vai e canta Fascinação.

Corta para 1980, Roberto Medina me convida para trabalhar na Artplan. E manda passagens para eu e Katinha, o amor de minha vida, passarmos um fim de semana no Rio. Combinamos um almoço, levamos um presentinho para sua filha Roberta, que nascera naqueles dias, mas o Roberto teve um problema de última hora e pediu para o VP da Artplan representá-lo no almoço. Mas, a conversa não evolui e meses depois eu montava a Madia e Associados.

Aproveitando que estávamos no Rio fomos assistir ao espetáculo Falso Brilhante, e lá no palco, ela, aquela menina do João Sebastião Bar de anos atrás, Elis, e cantando... Fascinação.

Outro salto e no fim dos anos 2010 Katinha e eu estamos em Nova York. Consultamos o Time Out, e descobrimos um show da Maria Rita no sul da ilha, Greenwich Village. E lá vamos nós. Abrem as cortinas, entra Maria Rita, e começa seu show com... Fascinação...

É isso, amigos. Estamos nós, aqui, uma vez mais, diante de um país governado por pessoas que já não deram certo, por notória incompetência e comportamento ético tóxico e deletério. Mas, e mesmo assim, acredito, nenhum de nós abre mão de seus sonhos de um dia e, finalmente, construirmos um país de verdade. E a hora é agora, diante da oportunidade única e espetacular decorrente do tsunami tecnológico.

Não é possível que sejamos protagonistas de termos recebido o melhor espaço de todo o planeta Terra e, por preguiça e incompetência, não consigamos transformá-lo num paraíso. Para todos os brasileiros e para os que queiram prosperar conosco.

“Os sonhos mais lindos, sonhei...”. Chegou a hora de colocá-los em pé. Vamos?

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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