Vamos deixar claro. O algoritmo foi pego de surpresa. Ele não esperava um drible desses de um garoto chamado Felca.

O algoritmo deve ter se confundido pelo ambiente onde ele estava, pela voz calma, não entendeu o cabelo dele. Algo aconteceu e um conteúdo inteligente e necessário furou bolhas e universos paralelos com ponderação relevante.

Tudo bem que não foram 300 milhões de audiências em 24 horas, mas a audiência do vídeo tem um número muito relevante.

Com esse vacilo do algoritmo por um momento, caíram estratégias ideológicas super bem montadas por exércitos de PHD, modelo de negócio trilionário de gênios do Vale do Silício e o vídeo foi entregue a uma audiência bastante diversificada.

E foi entendido e aceito como verdadeiro.

Não me lembro de uma mensagem tão lúcida sobre um tema tão importante ter viralizado em várias bolhas de audiência dessa forma.

O algoritmo vacilou.

A mensagem do Felca foi construída sobre o óbvio, mas com uma capacidade de entendimento completo. Ele desenhou, como costumamos dizer.

O vídeo é uma peça rara, pois o bem ultimamente não tem viralizado e a virtude não dá audiência. O delírio em que vivemos, nas redes pelo menos, tem mostrado isso.

No vídeo do Felca, como um Mr. M, ele mostra em detalhes como o algoritmo pensa e trabalha para moldar o mundo que vivemos hoje a sua imagem e semelhança.

Considero esse trabalho de comunicação primoroso e único. Não dá para saber se o algoritmo, qual zagueiro vingativo, vai permitir que essa falha na Matrix aconteça novamente.

Por um motivo claro.

O algoritmo representa e trabalha 24/7 para um modelo de negócio de mídia. Que se autoprograma, autoaudita e nos serve, qual um diretor de programação eficiente e implacável, dezenas de conteúdo impossíveis de ignorar, devido à ancestralidade humana.

O algoritmo é o cara que precisa desesperadamente de audiência. Existem gigantes de tecnologia que
dependem dessa audiência para vender mídia publicitária. E como funcionário do ano, ele está disposto a utilizar sua filosofia de programação preferida, os 7 pecados capitais: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça.

E no meio disso, muita publicidade de empresa séria que não entendeu ainda o que significa o vídeo do Felca.

Enquanto escrevo, observo que o video dele teve 36 milhões de visualizações. E detalhe ardiloso, nenhuma dessas visualizações teve monetização. Felca não ganhou um tostão. Isso o algoritmo não perdoa, vai dar carrinho na próxima.

Essa foi a primeira vez que o Brasil meio que acordou de seu delírio e entendeu a diferença entre liberdade de expressão e o que é libertinagem de expressão. Mas todo esse movimento pode ter sido apenas um vacilo.

Vamos lembrar o placar atual: Algoritmo 7 x 1 Realidade.

Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br