Desde jovem, fui profundamente impactado pela música. Minha jornada musical começou no samba, uma herança de família que estava intrinsecamente ligada a uma escola de samba, onde participamos ativamente, de diretores a compositores. Esse universo de sambas-enredo, alegorias e fantasias, mesmo que de forma indireta, despertou em mim um lado artístico que floresceria ao longo dos anos.
Na adolescência, minha atenção foi capturada pela cultura hip hop. Comprar CDs piratas com coletâneas de black music nas barraquinhas e pesquisar essas músicas no recém-lançado YouTube no Brasil se tornou quase um ritual. A descoberta dos videoclipes das minhas músicas favoritas abriu um mar de possibilidades na minha mente, ampliando minha visão de mundo e alimentando meu desejo por expressão criativa. Foi nesse período que me tornei DJ, intensificando ainda mais minha relação com a música e explorando cada vez mais suas possibilidades.
Para mim, a música sempre foi mais que entretenimento; é uma poderosa forma de expressão, um meio de comunicar emoções, contar histórias e, muitas vezes, resistir. As letras e melodias dos artistas que admiro sempre despertaram em mim o desejo de criar, de transformar sentimentos complexos em algo tangível. Essa conexão profunda com a música alimentou meu lado criativo, permitindo-me enxergar o mundo de forma diferenciada, onde cada som, ritmo e verso têm o potencial de inspirar narrativas, campanhas e mensagens publicitárias impactantes.
A moda, por sua vez, me ensinou a importância da identidade e da estética. Cada peça de roupa, cada combinação de cores e estilos carrega uma mensagem, uma história sobre quem somos ou quem desejamos ser. No universo da publicidade, essa percepção é crucial. A habilidade de entender e manipular a estética, de comunicar uma mensagem de forma visual e impactante, é algo que desenvolvi a partir do meu interesse por moda. Essa capacidade me permite criar campanhas que não apenas vendem produtos, mas também contam histórias autênticas.
Essas influências culturais, combinadas às minhas experiências pessoais, me impulsionaram a ingressar no mercado publicitário. Crescer em um ambiente onde as oportunidades para jovens negros eram limitadas me fez perceber que eu precisava ser mais do que apenas bom no que fazia – eu precisava ser excelente. As barreiras que enfrentei ao longo do caminho me forçaram a buscar sempre a excelência, a ser resiliente e a não aceitar um “não” como resposta final. Essas vivências moldaram minha visão de mundo e minha abordagem profissional, fazendo-me entender a importância de contar histórias que sejam ao mesmo tempo autênticas e representativas.
Hoje, como profissional estabelecido, entendo a importância de ser uma referência para os jovens negros que aspiram a uma carreira na publicidade. É fundamental que eles vejam que é possível ter sucesso, mesmo em um setor onde a representatividade ainda é um desafio. Meu conselho para esses jovens é simples: mantenham-se fiéis às suas raízes e às suas paixões, e usem suas experiências e referências culturais como combustível para a criatividade e inovação.
É vital também que busquem continuamente aprender e se aperfeiçoar. O mundo da publicidade está em constante evolução, e estar atualizado com as tendências, seja na música, na moda ou em qualquer outra área, é essencial. No entanto, nunca percam de vista a importância da autenticidade. As campanhas mais poderosas são aquelas que ressoam com a verdade, que se conectam com o público de maneira genuína.
Finalizo destacando a importância de trilhar o próprio caminho. Buscar referências é essencial, mas criar algo novo, que reflita verdadeiramente quem vocês são e no que acreditam, é o que realmente faz a diferença. Como diretor da Café Royal, atuando em uma área repleta de possibilidades, vejo a publicidade como um campo vasto, onde há espaço para todos que estão dispostos a inovar e contar as próprias histórias. Sejam ousados, criativos e, acima de tudo, autênticos. O futuro da publicidade está em suas mãos.
Lou Rodrigues é diretor da Café Royal