A indústria do audiovisual vive um momento muito positivo, com a variedade de formatos e plataformas diversificando cada vez mais as narrativas e os públicos representados nos conteúdos.
Este cenário, contudo, apresenta alguns desafios, o principal sendo a fragmentação dos budgets, o que torna cada vez mais difícil para os projetos aguentarem a pressão dos preços. Especialmente no Brasil, acredito.
Nesta conjuntura, o desenvolvimento de inteligências artificiais surgiu como uma panaceia capaz de sanar todos os dilemas do mercado, desde a análise de risco dos projetos até o barateamento nos custos de produção.
Enquanto a tecnologia tem um potencial incrível no fortalecimento e na qualificação do mercado, sua aplicação talvez mais reduza a quantidade de trabalhos ruins do que efetivamente aumentem a qualidade das boas produções.
Com a ascensão de IA’s cada vez mais sofisticadas, a mediocridade está com os dias contados. A excelência, por outro lado, ainda é e seguirá sendo um mérito da criatividade e do labor de humanos.
Inexoravelmente dependente das diretrizes e da produção humana para o seu funcionamento, seja qual for sua aplicação, IA’s trazem consigo o dilema da reprodução dos preconceitos e miopias sociais, da insensibilidade das perspectivas extremistas, da atomização do indivíduo que ainda refluxa em nossos tempos.
Se o “Dilema das Redes” nos fez repensar nossa relação com o universo digital, o dilema das inteligências artificiais nos apresenta questões existenciais sobre nossa relação com a alteridade e com nós mesmos.
Exige muita sensibilidade e vulnerabilidade para compreender o outro. Exige muita coragem e autorreflexão para compreender a nós mesmos.
Infelizmente, poucos humanos se propõem seriamente a estes exercícios.
Mas apenas humanos excepcionais transformam estas jornadas de aprendizado em arte, capaz de despertar nos demais as reflexões e provocações que nos fazem, coletivamente, evoluir filosófica e espiritualmente.
Mais do que isso, apenas seres humanos podem não apenas compreender, mas empatizar com a agonia de uma existência permeada de incongruências, dissonâncias e conflitos internos.
Devemos abraçar todo o potencial que as novas tecnologias trazem para o nosso mercado, permitindo que o seu filtro qualitativo reorganize nossa relação com o trabalho.
Mas devemos, sobretudo, formar e valorizar grandes profissionais, pois são eles que irão entender nossos anseios mais íntimos, nossas dores mais difusas.
São seres humanos e sua criatividade indelével que seguiram – e seguirão – na vanguarda do audiovisual.
E de todas as manifestações humanas.
André Pinho é head de publicidade e branded content da MyMama Entertainment (andre.pinho@mymama.com.br).