A defesa do futuro do planeta poderia ser representada por um senhor de idade, por uma negra, por um gay, mas se mostrou mais apropriado que fosse por uma menina de 16 anos. Greta é uma garota inteligente, determinada e profundamente engajada com a causa da ecologia. Mas, certamente, não é quem mais entende do assunto nem alguém com maturidade suficiente para ponderar todas as variáveis envolvidas nessa questão. Claro que Greta é orientada na organização das suas ideias e expressões.

Claro que suas iniciativas são supervisionadas e adaptadas no sentido de que obtenham melhor repercussão. Greta é o símbolo que encarna o medo das consequências do aquecimento global, causado pela emissão de gases e pela destruição das florestas, por exemplo. Por ser ainda muito jovem, sensibiliza os adultos e ganha identificação com as crianças, promovendo toda essa mobilização em torno de si e do que defende.

Uma declaração de Greta denunciando a morte de líderes indígenas na Amazônia, hoje, comove muito mais do que uma declaração do presidente da ONU denunciando ataques a imigrantes. Porque representa uma novidade na forma de tratar velhos conteúdos. Ou seja, é uma brilhante solução de marketing. Em vez de um bonequinho tridimensional animado, alguém de carne, osso, sentimentos e expressão real.

Quando Bolsonaro arremete sua bocarrotice inconsequente contra Greta faz um papel ridículo. Não apenas por colocar em dúvida a causa defendida por ela, mas por “brigar” com um gimmick. Acusar Greta de pirralha (no sentido de ser uma menina, ainda) é resultado de uma percepção simplória, uma tentativa de atribuir exclusivamente a ela a percepção daquilo que
é denunciado, uma tentativa frágil de convencer de que a ameaça ao planeta é uma fantasia nascida da imaginação de uma garota.

O fato é que esse é o máximo de compreensão que a sensibilidade (ou a falta de) do presidente brasileiro permite alcançar sobre os acontecimentos. Será demasiadamente sofisticada para ele a ideia de que a Time escolheu Greta como “pessoa do ano”, pelo que realizou dentro das possibilidades de uma menina de 16 anos, ao cumprir com todos os méritos o papel que lhe coube.

A capa da Time, sem dúvida, faz parte de um planejamento da campanha. Bem como a incorporação imediata da expressão “pirralha” às redes sociais de Greta, uma resposta madura à imaturidade tardia revelada na fala de Bolsonaro. Como em todo plano de marketing bem desenhado e administrado com inteligência, há uma dinâmica atenta presente o tempo inteiro.

Nada é impensado, muito menos decorrência de ignorância. O que falta em Bolsonaro de cultura e informação precisa sobre qualquer assunto que não sejam armas, sobra no movimento global em defesa do planeta. São tão díspares e distantes que suponho que a reação bem-humorada usada – a adoção do uso do termo “pirralha” por Greta – deve ter ocorrido num momento de descontração da equipe. Uma solução brilhante que deixou Bolsonaro ainda menor do que se mostrou ao atacar o gimmick.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)