A matéria de capa do PROPMARK desta semana trata de um assunto polêmico: inovação ou a falta dela. Publicitários ouvidos pela reportagem divergem na questão de o Brasil ser ou não inovador ou criativo por necessidade.
Afinal, em um país carente de inúmeras coisas em todos os setores, quem não for criativo não sobrevive, como diz um dos profissionais que participaram da “discussão” na reportagem proposta.
A ideia da pauta surgiu em função do baixo desempenho do Brasil no Festival de Cannes deste ano nas áreas que premiam a inovação e o uso da tecnologia. Nas categorias destinadas aos trabalhos para as mídias mais tradicionais, e também em entretenimento e social&influencer, o Brasil continua indo muito bem, obrigado.
Outro detalhe que fez o PROPMARK investir na pauta foi a tão propalada ideia de que o brasileiro é criativo e, acima de tudo, inovador.
Os publicitários ouvidos pela reportagem divergem, como já dissemos, mas a grande maioria concorda que não é só do talento natural e do DNA que a inovação vive.
O setor precisa de investimentos públicos nos talentos para se desenvolver e competir lado a lado com outros países. Especialistas dizem que inovar é a chave do crescimento sustentável.
A dúvida que fica é se o Brasil é realmente inovador ou apenas um empreendedor de oportunidade.
Tivemos acesso ao Índice Global de Inovação e o país ganhou cinco posições quando comparado com o ranking de 2020 e figura no 57º lugar entre 132 países. Parece um bom avanço, porém, a colocação brasileira é considerada ruim, pois o Brasil está dez posições abaixo da conquistada em 2011, quando chegou a sua melhor marca, na 47ª posição. No topo da lista está a Suíça, seguida por Suécia e Estados Unidos.
Alguns profissionais consideram o Brasil um país inovador, muitas vezes, por necessidade, mas, ainda assim, inovador. Um deles arrisca dizer que “somos sobreviventes”. “E, por conta disso, nos tornamos extremamente criativos, flexíveis e otimistas”.
Analisando todas as opiniões, faz sentido quando alguns deles batem na tecla da falta de investimentos e políticas públicas consistentes e de longo prazo, em praticamente todas as áreas, mas principalmente em educação, saúde, cultura e pesquisa.
Um dos profissionais na reportagem que o caro leitor pode ler nas próximas páginas fala que “com certeza somos muito criativos, considerando os resultados da maioria das premiações internacionais.
E algumas vezes somos também inovadores, porém temos mais ideias premiadas pela criatividade que pela inovação. É algo que podemos começar a pensar, o que de fato queremos deixar como legado para a sociedade. O brasileiro já nasce tendo de ser criativo. O fato de termos tantas crises em um mercado pouco previsível faz com que sempre tentemos algo diferente e novo para sobreviver. Sendo assim somos ‘criativos’ e isso sempre refletiu nas artes, na música e também nos negócios”.
Uma das profissionais comenta também que “o brasileiro é criativo, resiliente, sobrevivente”. O que separa o Brasil da inovação são nossos gravíssimos problemas estruturais. Enquanto os líderes globais em inovação também lideram o ranking de IDH, aqui a gente ainda é atravessado por uma distribuição de renda perversa que, por exemplo, aumenta o índice de inadimplência e de insegurança alimentar em pleno 2022”.
O baixo desempenho do Brasil em inovação, no Festival de Cannes, acredita um deles, é resultado direto da redução de investimento e também da instabilidade e imprevisibilidade econômica.
“Temos menos espaço para inovar quando estamos com medo. Tivemos um mercado medroso nos últimos anos, que não poderia assumir riscos. Aos poucos voltaremos aos patamares anteriores”.
Outro publicitário concorda com alguns colegas de profissão e afirma que Cannes 2022 trouxe o retrato dos últimos dois anos. “Estávamos focados em sobreviver”.
Armando Ferrentini é publisher do PROPMARK