Não necessariamente da totalidade do livro – claro se você não quiser – eu li inteiro, fiz marcas e anotações, e reli – O Trabalho no Século XXI – Fadiga, Ócio e Criatividade na Sociedade Pós-Industrial – de autoria do escritor e sociólogo Domenico Demasi – Editora Sextante – é, em meu entendimento, o mais importante – não o melhor – livro de 2022. Talvez, a mais completa retrospectiva relevante da evolução do trabalho – e agora o fim – desde que o mundo é mundo.
Se você é daqueles que gosta de uma grande panorâmica, mais que recomendo a leitura de todo o livro, pausada e reflexivamente, de 926 páginas, mais capa e contracapa. Agora, se você está mais interessado em temas específicos dessa longa trajetória de alguns milênios, você pode ler capítulos específicos. Nesse sentido, e se você quer ter uma visão mais atual e relevante para sua compreensão dos desafios de hoje, recomendo o capítulo XI – Atenienses, profissionais da democracia; o capítulo XIX – Os dois pilares teóricos da sociedade industrial, com especial atenção nas páginas em que fala do Iluminismo. A partir do capítulo XIX, página 385, recomendo a leitura de todos.
Domenico Demasi é sociólogo, dotado de incomum sensibilidade e fôlego, com uma cabeça mais que privilegiada que consegue protagonizar ousadias como esse livro de 926 páginas. Abarrotado de documentações, referências, pesquisas. 84 anos, de fevereiro de 1938, da cidade de Rotello, Itália, que se notabilizou pela criação e disseminação do conceito do Ócio Criativo. Sua produção intelectual começa há 65 anos, e jamais parou de pesquisar e escrever. Mergulha de cabeça, coração e alma em toda a documentação que colhe e organiza, mas, eu, Madia, discordo de boa parte de suas conclusões. Por exemplo, é profundamente cruel e superficial em relação a alguns dos mestres da administração moderna, muito especialmente, em relação ao mestre dos mestres, Peter Drucker. Mas, respeito. É isso. Mais que recomendo. O Trabalho no Século XXI, Domenico Demasi, 926 páginas que valem por 100 mil. Na versão Kindle, na Amazon, por R$ 44,91. E na versão papel, de pessoas que compraram e desistiram da leitura, a partir de R$ 79,90. E que, por sinal, são muitas...
E agora, um pequeno “spoiler” com duas citações curtas de diferentes momentos do livro.
Citando Michel Bosquet, que assinava André Gorz, diz, na página 752: “A esta altura, uma coisa é certa: ninguém fará carreira na profissão que aprendeu: essa profissão será transformada, simplificada, desqualificada ou suprimida pela microeletrônica. Estamos todos, potencialmente, em excesso”.
E na página 724, falando sobre o conjunto de todos nós, os “Novos Indivíduos Sociais”, Demasi diz:
“A Microsoft é de 1975; a web, de 1991; o Google, de 1997; o Skype, de 2003; o Facebook, de 2004; e o Twitter, de 2006. Em 2030, os digitais nascidos com a Microsoft terão 55 anos; os nascidos com a web terão 39 anos; os nascidos com o Google, 33 anos; os com o Skype, 27 anos; os com o Facebook, 26 anos; e os com o Twitter, 24 anos... Se hoje os analógicos ainda são a maioria e ocupam os vértices de todas as pirâmides – igrejas, exércitos, escolas, bancos, empresas –, em 2030 os digitais serão a maioria numérica. E seus modos de pensar, trabalhar e viver, totalmente diferenciado do modo dos analógicos...”.
É esse o grande desafio, amigos. Como seguir convivendo pacifica e harmoniosamente com nossos filhos, netos e bisnetos, e eles, quanta paciência precisarão ter com seus pais, avós e bisavós. Dica final, se você quer ir direto para os desafios de hoje, salte para a quarta parte do livro, pág. 577. E dedico este comentário de hoje a meu querido amigo Romeo Deon Busarello, um dos mais competentes líderes e gestores do Brasil, com quem temos discutido esse tema à exaustão, e com todas as razões e merecimentos, integrante do Hall da Fama, da Academia Brasileira de Marketing.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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