A indústria da publicidade está prestes a atravessar mais uma revolução. Depois das mudanças trazidas pela digitalização, pelo mobile e pela programática, agora é a vez dos Agentes LLM — modelos de linguagem baseados em inteligência artificial generativa que operam de forma autônoma, contínua e especializada. Mais do que assistentes, esses agentes prometem reconfigurar o trabalho das agências e dos departamentos de marketing em todas as etapas: do planejamento à entrega final.
Com base em modelos como o Manus, GPT da OpenAI e o Copilot da Microsoft, esses agentes já não apenas executam comandos, mas também tomam decisões, aprendem com dados históricos e se integram a ferramentas do cotidiano das agências. E a publicidade, com seu ritmo acelerado e exigência constante de inovação e personalização, se torna um dos campos mais férteis para sua aplicação.
De Assistentes a Parceiros Criativos
A evolução dos LLMs (Large Language Models) transformou-os de simples assistentes virtuais em verdadeiros “especialistas digitais”. Diferentemente de soluções pontuais como chatbots ou redatores automatizados, os Agentes LLM atuam com autonomia para executar tarefas complexas em múltiplas etapas — e com alto grau de personalização.
No contexto publicitário, isso significa ter agentes capazes de moderar comentários em redes sociais, cruzar dados de performance em tempo real, ajustar orçamentos com base no ROI previsto e até gerar insights criativos com base em tendências culturais emergentes. Eles são os novos apps de um mundo movido a IA.
Automatização com Foco no Humano
A principal promessa dos agentes é liberar tempo criativo. Ao assumir tarefas operacionais — como conferência de specs técnicas, criação de relatórios de mídia, ou até a roteirização de e-mails — os profissionais podem se dedicar ao que as máquinas ainda não fazem: conectar marcas a pessoas com empatia e propósito.
Na prática, agências já estão testando agentes que redigem textos baseados em dados de performance, sugerem micro-influenciadores com alto fit para campanhas de nicho ou monitoram padrões de comportamento para alimentar o planejamento, mas atuar com um LLM é muito mais do que isso. Os Agentes podem operar em todas as fases da cadeia de valor publicitária:
Planejamento: Inteligência preditiva e segmentação granular
No estágio inicial, o Agente LLM atua como uma central de inteligência competitiva. Ele pode cruzar dados históricos, examinar o posicionamento de concorrentes em tempo real, identificar lacunas de mercado e até prever tendências de consumo com base em comportamento digital.
Mais do que buscar palavras-chave ou dados demográficos, ele identifica padrões de comportamento, gera segmentações mais refinadas e entrega briefings alimentados por insights que combinam performance passada e sinais futuros. Isso eleva a precisão das decisões de mídia e conteúdo desde a largada.
Criação: Copilot criativo com repertório e contexto
Durante o processo criativo, os Agentes LLM deixam de ser apenas redatores automatizados e passam a funcionar como sparrings conceituais. A partir de um briefing ou objetivo de campanha, sugerem abordagens criativas, ideias de ativação, roteiros iniciais para vídeos e propostas de copy com variações por persona e canal.
Eles também podem construir personas baseadas em clusters reais de comportamento, usando dados primários da marca e informações do mercado. O resultado: campanhas mais alinhadas à linguagem do público, com ganho de escala e tempo sem sacrificar relevância.
Execução: Fluidez operacional e integração com martech
Na fase de execução, os agentes atuam como gerentes operacionais invisíveis. Eles organizam e otimizam o fluxo de tarefas entre equipes, controlam prazos, e até automatizam processos como a compra de mídia programática, respeitando as regras e metas definidas.
Integrados a ferramentas como Trello, Monday, Google Ads, Meta Business e CRMs, eles funcionam como hubs que consolidam tarefas, alertam sobre desvios e sinalizam gargalos. A campanha roda com mais fluidez, menos retrabalho e controle constante dos SLAs.
Monitoramento: Diagnóstico preditivo e ajustes em tempo real
Durante a veiculação, o Agente LLM monitora dashboards em tempo real, interpreta KPIs e propõe otimizações com base em aprendizado contínuo. Isso inclui alertar sobre queda de CTR, aumento de CPA, ou até o impacto de um criativo específico num determinado público.
Com APIs conectadas às plataformas de mídia, o agente pode, por exemplo, sugerir o desligamento automático de peças com baixo desempenho, testar novas variações de copy ou até adaptar campanhas com base em feedbacks coletados em redes sociais — tudo com supervisão humana.
Relacionamento com Clientes: Eficiência com empatia
No front de atendimento, os Agentes LLM ganham protagonismo na gestão de relacionamento com marcas e stakeholders. Eles organizam materiais para reuniões, recuperam dados históricos relevantes, antecipam dúvidas com base em FAQs e até redigem minutas de follow-up personalizadas.
Para agências, isso representa uma nova era de atendimento com inteligência contextual, que respeita o tom de voz da marca, antecipa necessidades e libera os executivos para focarem nas conversas estratégicas com o cliente.
Esses cinco pilares mostram que o verdadeiro valor dos Agentes LLM não está apenas na automação, mas na capacidade de aprender, adaptar e colaborar. Trata-se de um novo tipo de inteligência operacional e criativa — capaz de dar escala à personalização e velocidade à estratégia, sem substituir o humano, mas multiplicando seu impacto.
Desafios Éticos e Técnicos em Jogo
Com grande poder, vêm grandes responsabilidades. A implementação de agentes exige não só robustez técnica, mas governança e ética. Questões como o uso seguro de dados, o viés algorítmico e a transparência das ações dos agentes estão no centro da discussão.
Os agentes aumentam o risco e que será essencial manter um humano no loop em decisões sensíveis. Isso é ainda mais importante no setor criativo, onde reputações e marcas estão em jogo.
O Novo Ecossistema Criativo Humano+IA
A projeção para os próximos anos é o surgimento de um verdadeiro “ecossistema de agentes”, especializado por setor, marca ou até por objetivo de campanha. Com avanços em memória contextual, acesso seguro a dados e integração com ferramentas como SalesForce, Figma, Adobe, Meta Ads e Google Analytics, os agentes tendem a operar como membros plenos das squads criativas.
Para as agências e CMOs, basta explorar, testar e incorporar. Ignorar os LLMs pode custar relevância e eficiência em um mercado cada vez mais competitivo.
A era dos Agentes inaugura um novo capítulo na relação entre criatividade e tecnologia. Não se trata de substituir o humano, mas de criar uma inteligência ampliada — onde dados, intuição e automação convivem e se alimentam mutuamente.
As campanhas do futuro serão mais ágeis, mais personalizadas e mais eficazes. Mas, acima de tudo, serão fruto de uma colaboração inédita entre mentes humanas e agentes digitais. Uma nova fronteira está aberta. E ela é tão promissora quanto inevitável.
Leandro Maraccini Claro é vice-presidente de comunicação e mercado da Vitru Educação