Pesquisa Datafolha divulgada nesta semana traz um resultado que considero relevante diante da crise climática que enfrentamos no mundo: 97% dos brasileiros entrevistados afirmam ter percepção do troco que estamos recebendo, no nosso dia a dia, de tantos abusos contra a sustentabilidade do planeta. E contra a nossa própria sobrevivência também.

E o que as marcas têm com isso? Tudo e muito mais.

Por um lado, é óbvio que praticamente toda a amostra - 2.457 pessoas acima de 16 anos, ouvidas em mais de 130 municípios entre 17 e 22 de junho - ainda está sob o impacto das tragédias vistas e vividas no Rio Grande do Sul desde o início de maio, com um total de 179 mortes e 34 desaparecidos. Esse impacto seria ainda maior se a pesquisa tivesse se estendido até o início deste julho, quando apenas no primeiro dia do mês houve um número de focos de queimadas no Pantanal maior do que o registrado em todo o período de julho do ano passado.

Mas, por outro lado, é a primeira vez que uma pesquisa sobre a questão climática no Brasil revela uma abrangência demográfica tão significativa em termos de percepção desse problema. Na verdade, mais do que um problema, uma importante causa, que precisa ser defendida e disseminada cada vez mais em toda a sociedade.

Essa quase unanimidade brasileira, com a percepção de que a realidade ambiental está plenamente inserida no nosso dia a dia, representa uma importante oportunidade de engajamento. É um momento que se mostra favorável e estratégico para o desenvolvimento de campanhas sérias, eficazes e criativas com objetivos bem específicos de envolver a população em ações que podem ir além da conscientização.

É, na verdade, um engajamento mais do que necessário já que o volume de doações para causas ambientais é absurdamente baixo, representando apenas 1% do total de doações, segundo dados do IDIS Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social).

Além do grau de percepção dos consumidores sobre as catástrofes climáticas, há outros bons indicadores sobre o envolvimento da outra ponta da comunicação, no caso, os próprios anunciantes. Pesquisa recente da Data-Makers sobre práticas ESG, feita com 100 líderes de negócios, entre CEOs e C-Levels de vários segmentos, aponta que 42% deles estimam que os investimentos nesse segmento vão crescer nos próximos 12 meses.

Há 18 anos lidero uma agência de comunicação com a qual me sinto privilegiado por ter sempre trabalhado com o marketing de causa. O meio ambiente é um dos pilares desse trabalho, principalmente com os cases desenvolvidos com o Greenpeace, uma das maiores e mais respeitadas ONGs de ativismo ambiental com atuação mundial, com a qual temos um relacionamento desde 2019.

Com o avanço das práticas ESG no mercado, a questão ambiental é cada vez mais transversal e se torna uma tema que, essencialmente, deve ser realidade de corporações de todos os setores e tamanhos, e de todas as marcas que atuam em qualquer segmento de produto ou serviço.

É imprescindível que todas as empresas fortaleçam seus processos internos, com princípios de sustentabilidade em sua missão, visão e valores, garantindo que sua atuação esteja devidamente alinhada com esse compromisso.

Mais do que nunca, principalmente com as oportunidades que se abrem com esse índice de percepção dos consumidores revelado pelo Datafolha, as marcas precisam se comunicar com transparência, propriedade e verdade. Não há qualquer espaço para greenwashing ou outros subterfúgios de propaganda enganosa. Não pode parecer sustentável sem de fato ser.

A situação é clara: vivemos uma emergência climática, com medições cada vez mais alarmantes sobre o aquecimento global e a incidência cada vez mais frequente de eventos extremos, de frio e calor ou de secas e enchentes avassaladoras.

A percepção está posta. Cabe a todos nós transformar a realidade.

Otavio Dias é sócio-fundador e CEO da Repense Comunicação (otavio.dias@repense.com.br).