É claro que eu estava ansiosa para minha estreia na web. Na verdade, eram várias estreias ao mesmo tempo, e chegavam para complementar minha carreira executiva: a experiência adicionalcomo professora, dando aulas pela primeira vez no formato on line, prestes a conduzir o primeiro webinar, destinado a alunos com quem eu talvez jamais tivesse qualquer interação. Tudo o que eu sabia é que tínhamos um recorde de mais de 3 mil inscritos e uma sala virtual com capacidade limitada. E apenas os primeiros quinhentos internautas cadastrados, que entrassem na tal plataforma, conseguiriam assistir à aula gratuita, oferecida pela instituição de ensino, em tempos de pandemia. Para quem já tinha apresentado telejornal ao vivo, essa experiência não parecia tão desafiadora ou completamente diferente. Mas foi.

A começar pelo ensaio. Eu bem que procurei testar as ferramentas, o áudio, os vídeos e os links programados para utilizar naquela aula: mas foi impossível. Fui informada de que uma hora antes do início, momento destinado para os testes, a sala já estava ocupada por alunos, que resolveram seguir meu próprio conselho de chegar com antecedência para reservar um lugar virtual – e o tal ensaio foi cancelado. O que me restou foi contentar-me com as dicas clássicas do monitor, que me acompanharia na live, sobre como conduzir a aula nesse novo ambiente: “vai dar tudo certo, profe”. Talvez ele tenha subestimado o fato de estar lidando com uma professora de primeiríssima viagem, na versão “Digital Sapiens”.

Consigo lembrar do momento em que senti o primeiro frio na barriga naquele dia. Foi logo no início da aula, quando o vídeo de abertura travou, e não “rodou”. Tentei então compartilhar o podcast, que ninguém ouviu porque o som não chegava para todos. Foi quando resolvi chamar meu primeiro convidado, que apresentaria um case. Até hoje não sei o que houve, mas a voz dele estava desvirtuada, “parecia a voz do Tio Patinhas”, como disse uma das alunas presentes. E ele não conseguiu participar. Já o segundo convidado também ficou de fora da conversa, porque houve um “conflito de zooms” (a plataforma dele não conversava com a plataforma da escola). E o momento mais frustrante, para mim, foi quando a Internet ficou super instável, a ponto de eu ter que desligar minha própria câmera para garantir que pelo menos minha voz fosse ouvida e eu continuasse presente, dentro de sala, dando a aula até o final, conforme planejado.

Apesar de todos os tropeços digitais, o saldo da aula– na percepção de quem assistiu – foi muito positivo. A sala virtual ficou lotada do começo ao fim. E o feedback dos participantes realmente me surpreendeu. Na repercussão nas mídias sociais, sempre tão implacável e direta, o destaque não foi para o que deu errado. Um dos assuntos mais comentados foram as experiências compartilhadas e os aprendizados. A maioria citou os cases práticos discutidos. De quando houve diálogo e espaço para as perguntas ao vivo. De quando as pessoas puderam dar opinião, fazer comentários, por mais divergentes que fossem,  sendo respeitadas e incluídas na reflexão. Uma aula construída a várias mãos, inclusiva, diversa e plural. E o ponto alto da conversa entre eles foi a forma transparente, leve e até divertida de como lidamos com todos os imprevistos, com os erros e com todas as falhas na web da “profe” iniciante.

Sim, ainda temos muito a avançar em nossa versão “Digital Sapiens”. Da tecnologia em si, do preparo acadêmico, ao acesso do aluno e às novas formas de aprendizado virtual. Mas ficou claro, nesta minha experiência, que o que é esperado hoje  de um professor é bem semelhante ao que se espera de um líder, do meu conhecido mundo executivo: é preciso estar preparado para enfrentar, com naturalidade, o imprevisto e o imperfeito; ter jogo de cintura para ser múltiplo e criativo, mudando a rota de forma ágil, sempre que necessário;  reconhecer quando errar ou quando não souber; ter escuta ativa, compartilhar conteúdo relevante e assumir, de forma autêntica e corajosa, quando não se tem todas as respostas. Habilidades de um profissional mais próximo e humanizado que, aliás, vem sendo cada vez mais esperado em qualquer ambiente em que ele estiver trabalhando. Ou seja, não basta ser um “Digital Sapiens”. É preciso, antes de tudo, ser um “Human Sapiens”.  

Malu Weber é jornalista, executiva de Comunicação Empresarial e Professora de Gestão de Reputação na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing