Quase o nome de um filme... Dentre as marcas mais citadas por péssimas razões no ano passado figura nas primeiras colocações Takata. Isso mesmo, a Takata com seus airbags assassinos.

Airbags esses que foram colocados em 4.352.428 veículos fabricados no Brasil e mais de 100 milhões em todo o mundo. Praticamente as principais montadoras eram clientes da Takata e de seus airbags assassinos.

Dentre outras, Honda, Toyota, Nissan, Mitsubishi, Mazda, Subaru, BMW, Ford, GM, Fiat Chrysler e Volks.

Airbags assassinos que, em determinadas situações, explodiam como se fossem granadas e, em situações excepcionais, podendo até mesmo matar as pessoas dentro dos automóveis. No Brasil, o último dado disponível e comprovado falava de 39 casos de explosão, com uma morte e 16 feridos.

Os airbags possuem uma peça de metal chamada de deflagrador, que contém um elemento químico gerador de gás. Essa pecinha é que faz com que o airbag expanda-se imediatamente diante de qualquer acidente.

Em algumas situações de colisão, o deflagrador defeituoso mais que liberar o gás, literalmente explode, rompe a bolsa e lança centenas de estilhaços de metal em alta velocidade contra os ocupantes do carro.

E, aí, cada uma das montadoras a seu jeito, dependendo da qualidade de seus cadastros de clientes, da relação que mantém com seus clientes, foi convocando para a troca, para o recall.

Mas menos da metade dos proprietários de automóveis em risco atendeu à convocação. E, de tempos em tempos, alguma montadora, advertida por seus advogados, procura sensibilizar os proprietários para que agendem a substituição e procedam o reparo.

No primeiro semestre de 2021, no desespero, a GM deu início a uma promoção, diante do insucesso de iniciativas anteriores, tentando sensibilizar os proprietários dos 144.272 sedãs Classic, e 91.573 Hatches compactos Celta, que até aquele momento não tinham atendido à convocação, e para fazê-lo o mais rápido possível.

E para tanto ofereceu a todos que atendessem ao recall um vale combustível de R$ 500, e ainda concorria ao sorteio de três carros zero-quilômetro.

O hoje chamado “affair Takata” é, de longe, o maior cochilo jamais cometido por qualquer indústria. Todas as montadoras que compraram os airbags da Takata para seus diferentes modelos agiram, no mínimo, com negligência.

E, assim, enquanto um último modelo continuar rodando com os airbags potencialmente assassinos, essas montadoras não dormirão tranquilas.

Como era mais que esperado, a Takata não resistiu o tamanho da lambança, e declarou-se falida, vendeu o que restou aproveitável de suas máquinas em instalações para a Joyson Safety Systems, uma vez que a marca não valia mais nada.

E um documentário está sendo finalizado neste momento – Ticking Time Bomb – The Truth Behind Takata Airbags – Bomba-relógio – a verdade por trás dos airbags da Takata, onde revela-se, assim como aconteceu durante décadas na indústria de cigarros, os executivos da Takata sabiam dos elevadíssimos riscos que seus airbags representavam. E cometeram, como as cigarreiras, assassinato em massa. E, mesmo assim, seguiram vendendo... Ou seja, o documentário deveria chamar-se Negligência ou Omissão. Melhor ainda, Crime Culposo.

No dia 26 de junho de 2017, a Takata ingressou com pedido de falência. Seus airbags até hoje seguem ferindo gravemente, e, até mesmo, matando...

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br