Sempre se fala sobre a marca Brasil. Mas agora, o contexto é outro. O mundo é outro. E a gente pode pensar que o mundo está fora do eixo. Na vida as coisas podem ser doidas, mas não loucas. Ou ao contrário.
Para falar do Brasil, preciso citar o Canadá que em comum tem a miscigenação, várias línguas, grande extensão territorial e uma máxima que divide com o brasileiro, a impressão de que somos pessoas simpáticas, pacíficas e felizes.
Recentemente, estive no Canadá para um evento da Advertising Age, empresa tradicionalíssima americana no segmento de comunicação. Por que Toronto em vez de Nova York? Eles me contaram que é sobre preço. Muito mais em conta com o dólar canadense. Mas tem mais que isso. O mundo está diferente. E o posicionamento pode estar nos detalhes que a brutalidade não percebe.
O Canadá vem reagindo de uma maneira diferente a esse mundo mais agressivo que vivemos. Se uniram, focaram em se defender economicamente e culturalmente. Estão mais fortes. Afinal eles possuem recursos naturais, indústria, conhecimento e um sentimento de pertencimento que se agigantou recentemente com as tarifas que eles enfrentam.
Internamente, o setor de varejo e indústria estão substituindo os produtos importados por nacionais para proteger o país desse “novo anormal” em que nos metemos.
O Brasil, como marca, está paralisado. Como bicho no foco de lanterna cercado pela escuridão da intolerância. Não sabemos o que fazer com o que está acontecendo. Mas nesse mundo atual a saída é uma só: comunicação.
Lembro quando trabalhava para o Ministério da Saúde como redator e o ministro decidiu quebrar a patente de remédio de aids, o que gerou uma confusão internacional sobre direitos de patentes e todo tipo de comentário ideológico. Encomendou um anúncio no New York Times para explicar o ponto do Brasil sobre o tema. E explicou.
Um dia a Netflix ainda vai contar essa história da saúde publica brasileira sendo exemplo para o mundo no combate à aids.
O Brasil possui vantagens incríveis: se entende bem com China, Europa e América e com seus vizinhos de fronteira. Tem comércio estabelecido com 145 países. Produz até 3 safras por ano, se for preciso, energia limpa em grande quantidade de diversas fontes, recursos como água, minerais raros, potencial de turismo e junte a essa lista quantos itens quiser, até o sistema financeiro do futuro.
Agora é a hora de abrir mercados, de acreditar nos valores de marca do país. Nesse exato momento, qualquer país democrático de qualquer continente sabe que não pode esperar do acaso uma equidade global minimamente justa como havia. É preciso construir pontes. Trazer investimentos e a cultura pode e deve ajudar.
Como exemplo, gostaria de citar o Bad Bunny, artista porto-riquenho que mudou o panorama do turismo em Porto Rico levando mais de 500 mil turistas em 2025 para ver o início de sua turnê. Ele topou fazer a turnê internacional depois de lotar estádios e hotéis e acelerar a economia do país com seus shows. E isso tudo fruto de um álbum que fez ano passado sobre Porto Rico, cantando as qualidades do lugar e o jeito do porto riquenho e sua cultura. E o que motivou o álbum? Uma crítica de um congressista americano chamando o seu Porto Rico de lixo da América.
Existe riqueza no lixo, mostrou Bad Bunny para a gente aqui.
Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br