Estive analisando os resultados da última pesquisa Edelman Trust Barometer. A edição 2022 da pesquisa anual, que é realizada há 23 anos, foi feita em novembro do ano passado e envolveu 28 países, com mais de 32.000 participantes.
Seu foco é checar o nível de confiança e de preocupação dos moradores dos países envolvidos em relação às instituições e às empresas. Por ser um barômetro anual, por meio dos seus resultados, conseguimos identificar variações e tendências na expectativa das pessoas com relação aos movimentos do seu país e do mundo.
E, de cara, a primeira constatação não é boa: o pessimismo com relação ao futuro é flagrante. Ao reagirem à afirmação “Eu e minha família estaremos melhores economicamente daqui a 5 anos”, houve uma queda generalizada, de 10% em média, quando comparada a 2019. E o Brasil teve uma das maiores quedas: 15%.
China foi uma das raras exceções, com 1% de aumento de otimismo. Quanto ao nível de confiança nas instituições, o resultado do ano passado se repetiu, confirmando uma percepção perturbadora: somente as empresas são confiáveis.
Isso mesmo! Somente as empresas superaram o nível de 60% que determina se uma instituição é confiável ou não. As empresas obtiveram 64 pontos. Nem as ONGs (59), nem governo (51), nem a mídia (50) conseguiram índices mínimos de percepção de confiança.
No Brasil, o gap entre as empresas e o governo é um dos maiores: 24. As empresas brasileiras tiveram um índice de 64 e o governo de 40. Com relação às lideranças, os CEOs são considerados mais confiáveis do que os governantes, numa proporção de 48 X 41.
Quando o foco é o “meu” CEO – ou seja, o CEO da empresa do entrevistado –, o índice sobe bastante e alcança 64 pontos. Embora tenha havido uma queda de 2 pontos percentuais em relação ao ano anterior, os CEOs mantém um bom nível de confiança. Isso tem um lado bom, mas traz junto uma responsabilidade muito grande aos dirigentes empresariais.
Na desilusão com os governantes, as pessoas depositam nos CEOs a esperança de uma mudança positiva. Espera-se dos dirigentes empresariais muito mais do que manter sua empresa rentável.
Espera-se uma atuação mais sensível e ativista em relação às questões que preocupam a sociedade. De acordo com a pesquisa, 82% esperam que os CEOs façam mais contra o aquecimento global.
Mais de 80% esperam que esses dirigentes sejam sensíveis e combatam qualquer tipo de discriminação. Em contrapartida, as pessoas se propõem a valorizar essa atitude na hora da compra. Mais de 63% concordam com a afirmação: “Eu compro e recomendo produtos de empresas com crenças e valores semelhantes aos meus”.
Esses resultados corroboram uma tendência firme dos últimos anos, reafirmando a necessidade de as empresas não se fixarem apenas no seu lucro, mas serem sensíveis também ao que se passa ao seu redor.
É o conceito do triple bottom line, que não canso de repetir nos meus artigos: o bom resultado das empresas é aquele que leva em conta 3 Ps: Profit (Lucro), People (Pessoas) e Planet (Planeta).
Este conceito, cunhado pelo sociólogo inglês John Elkington em 1994, nunca foi tão atual. Num mundo de governantes pouco confiáveis (como mostra a pesquisa), as empresas precisam ocupar um papel mais nobre do que só garantir ganhos crescentes aos seus acionistas.
Cabe a elas uma gestão em sintonia com os princípios ESG, cuidando das questões ambientais, da responsabilidade social e da governança ética e transparente. E o bom disso é que não é preciso abrir mão do lucro para se ter uma atuação mais consciente e sensível.
Uma pesquisa da Standard & Poor’s mostra que as empresas mais rentáveis são aquelas que já descobriram que o lucro não é excludente de uma atuação empática e consciente na sociedade.
Portanto, se você é dirigente de uma empresa, orgulhe-se de receber a confiança dos consumidores, mas não traia essa confiança. Estamos todos de olho!
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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